“Como Eu Era Antes de Você” (2016) e um breve comentário acerca do direito de morrer

“Me before you”, ou, em português, “Como eu era antes de você”, foi, sem dúvidas, um dos filmes de romance mais esperados do ano de 2016. No entanto, mesmo que você não seja um admirador do gênero, não deixe de assisti-lo! A película proporciona aos seus espectadores um saldo de gargalhadas superior ao de lágrimas.
Baseado no Bestseller de Jojo Moyes, o filme conta a história de Louisa Clark (Emilia Clarke), uma jovem de 26 anos, acomodada com sua vida em uma cidadezinha no interior da Inglaterra. Louisa vive um relacionamento de seis anos com Patrick (Matthew Lewis), um obcecado pela saúde física e corporal, que não parece manter interesse por ela, o que é recíproco. Em relação à vida profissional, Lou trabalha em um mesmo café há anos, que não lhe garante nenhuma ascensão para o futuro e nem lhe paga muito, mas no qual ela se mantém pelo simples fato de gostar de conversar com os clientes, além de precisar ajudar seus pais com as despesas de casa, onde mora também com o seu avô, e sua irmã mais nova superdotada, Katrina (Jenna Coleman). Claramente, Lou vive uma vida baseada no comodismo – desmotivada a mudar a situação em que se encontra, aceitando-a e, inclusive, não a enxergando como sendo tão ruim.
Entretanto, logo no começo da narrativa, as coisas começam a mudar. O conforto de Lou começa a ser quebrado por uma série de acontecimentos, sendo o primeiro deles o fechamento do café em que trabalhava. Frente à situação financeira de seus pais, e à impossibilidade de sua irmã ascender em uma carreira devido ao nascimento de seu filho, Thomas, Louisa vai à agência em busca de um novo emprego. Após diversas tentativas, aparece-lhe a oportunidade de tornar-se cuidadora de um tetraplégico por seis meses, com um salário bem acima dos regularmente oferecidos. É assim que Louisa Clark começa a trabalhar na Granta House, mansão dos Traynor, e conhece William Traynor (Sam Claflin) – um jovem de 35 anos que se torna tetraplégico após um acidente com uma motocicleta.
Antes do acidente, Will era CEO de uma grande empresa, morava em Londres e passava seu tempo livre realizando viagens longas para praticar esportes radicais com sua, na época, namorada, Alicia (Vanessa Kirby). Agora, Will se vê limitado a uma cadeira de rodas, impossibilitado de fazer as coisas que mais gostava, possuindo dias repletos de dores e espasmos musculares, o que o torna um sujeito mal humorado e infeliz. Sendo assim, os seus primeiros contatos com Louisa não poderiam ser diferentes: frente ao esforço de Lou para ajudá-lo ao máximo, Will sempre lhe responde com cortadas, deixando claro que sua presença não é necessária – e nem desejada. Nesse meio-tempo, Louisa cogita desistir do emprego, mas, frente à insistência da mãe de Will, Camilla Traynor (Janet McTeer), Louisa persiste, começando a tratar Will da mesma maneira como ele a trata: de forma sarcástica e grossa.
A partir desse momento, uma relação começa a ser firmada. Lou e Will começam a fazer diversas atividades juntos, como assistir filmes ou conhecer pontos turísticos da cidade, e, lentamente, começam a ser mais abertos um com o outro. Louisa começa a entender quão ruim é a situação de Will – tanto pelo fato de ele ter vivido uma vida completamente diferente da que é vivida por ele após o acidente, quanto que a sua situação é biologicamente irreversível. Já Will começa a perceber que por baixo de todas aquelas roupas excêntricas e expressões faciais características de Lou, há uma pessoa inteligente e com potencial, que, no fundo, não possui motivo algum para manter-se presa a uma carreira sem ascensão e a uma vida tão conformada.
A relação das personagens vai ficando mais sólida, até que Lou descobre os planos de Will de ir à Suíça e realizar suicídio assistido – morte induzida, realizada, geralmente, em doentes terminais, por decisão deles mesmos. É aqui que entra o principal debate sobre o filme: há quem sustente, de maneira maldosa, que a mensagem do filme é mostrar que é melhor para uma pessoa morrer do que precisar de um serviço que a ajude a viver. O entendimento buscado por Jojo, no momento em que escreveu a história, no entanto, é justamente mostrar que não pode haver tamanho preconceito voltado às pessoas que, em tal situação, optam pelo fim da vida. É exatamente nesse sentido que a autora nos traz um exemplo específico de um tetraplégico cuja personalidade não é composta apenas por seu caráter, mas também pelas suas predileções – e era uma vida baseada em seus gostos a vivida por Will, praticando esportes radicais e conhecendo o mundo, o que não mais podia fazer na situação em que se encontrava. Tal discussão se encontra, portanto, intrinsecamente ligada ao direito: a realização do suicídio assistido, por parte de Will, nada mais seria do que o seu acesso ao sustentado direito à morte digna, a escapatória de uma vida que ele não mais considerava como “sua”, mas como a única forma de vida permitida pela sua situação física.

Frente a tal situação, Louisa busca a realização de milhares de atividades que possam fazer Will Traynor mudar de idéia, e se sentir vivo novamente. O que não é esperado por Lou é que Will também a ensina, mostrando que ela possui toda a capacidade de sair de sua zona de conforto, fazer coisas novas e experimentar novas sensações.
É esse o espírito principal do filme, que pode ser indicado para pessoas de qualquer faixa etária e com qualquer gosto. “Como eu era antes de você” não é um “romance garoto-garota clichê” com um pouco de comédia no meio. Mais do que isso, o filme traz-nos uma lição de vida – uma lição sobre o amor, a caridade, a empatia e o preconceito. Mostra-nos como duas pessoas em situações totalmente diferentes podem afetar a vida uma da outra de uma forma extremamente positiva e revolucionária. E mais: ensina-nos que o conceito de vida vai muito além da simples sobrevivência – não basta que se respire para estar vivo.
Você está vivo?
“Você só vive uma vez, é sua obrigação aproveitar a vida da melhor forma possível.” Jojo Moyes.

Amanda Abreu
3° Período – Direito UFRN

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