“Urso Branco”, da série Black Mirror, e a espetacularização do Direito Penal

Para quem não conhece, “Black Mirror” é uma série de televisão britânica que passou a ter alcance internacional após ser inserida no Netflix. Atualmente, a série é composta por três temporadas de episódios independentes, apresentando cada um deles uma sátira à sociedade contemporânea, com enfoque nas consequências que o desenvolvimento desenfreado de novas tecnologias pode vir – ou já veio – a trazer.
Na análise aqui presente, trataremos do segundo episódio da segunda temporada da série, intitulado de “Urso Branco”. Neste capítulo, a série traz-nos a história de Victoria: uma mulher que acorda em um quarto, sem lembrar quem é e como foi parar ali. Atordoada, Victoria procura alguém de quem possa extrair informações sobre si, no entanto, ao sair na rua, observa estar sendo filmada por todas as pessoas que por ela passam, às quais pede ajuda, mas estas parecem não escutá-la.
No desenrolar da história, Victoria passa a ser perseguida por pessoas que parecem estar usando fantasias, cada qual portando uma arma diferente – serra elétrica, espingarda, taco de baseball, etc. Em sua fuga, a protagonista conhece uma jovem que está na mesma situação que a sua. Essa nova personagem explica a Victoria que alguns meses antes, uma espécie de “sinal” em forma de peça de quebra-cabeça foi transmitido para todos os dispositivos que possuíssem uma tela, e desde então todas as pessoas atingidas por este passaram a viver como telespectadores do que acontecia com as pessoas que não foram por este afetadas. Outra parte dos atingidos tornou-se caçadores daqueles que não foram acometidos pela lavagem cerebral. As duas personagens passam, portanto, a ter como objetivo chegar a uma base chamada de “Urso Branco”, onde não podem ser encontradas pelos seus caçadores.


Assim, uma série de acontecimentos angustiantes ocorre na jornada das duas a Urso Branco, sendo perceptível o sofrimento de Victoria frente a cada um deles. Mesmo com todo o seu tormento, continuam as pessoas filmando-a de longe, enquanto sofre. Ao fim da história, uma reviravolta acontece: todo o desenrolar da história estava sendo filmado e transmitido em uma espécie de “show”. Descobre-se, então, a identidade da protagonista: Victoria Skillane foi condenada, juntamente com o seu marido, Iain, pelo brutal assassinato de uma garotinha de nome Jemima, que carregava um urso branco. Pior: todo o ato, de maneira fria e calculista, foi filmado por Victoria com o seu celular. Enquanto aguardavam o julgamento, o seu noivo cometeu suicídio, o que foi considerado pela sociedade como uma pena leve e injusta. Para evitar que Victoria cometesse o mesmo erro, esta foi sentenciada a uma vivência onde será observada, fotografada e filmada todos os dias por um grupo voluntário de pessoas, enquanto luta pela sua vida – é a espetacularização de sua pena.

De fato, parece uma história fictícia, de realidade muito distante do mundo atual. Mas lamento dizê-los que não o é.
O “Direito Penal do espetáculo” é um fenômeno muito observado na atualidade, quando o fascínio pela punição e a repulsa pelos infratores fazem com que a ideia de “bandido bom é bandido morto” apareça como remédio para os mais variados problemas sociais. Nesse sentido, parece clamar a sociedade à jurisdição por penas cada vez mais severas, por vezes desproporcionais ao ato delituoso cometido pelo indivíduo que está sendo julgado, o que faz deste julgamento um objeto privilegiado de entretenimento.
Aliado ao fenômeno da realização de “justiça com as próprias mãos”, a espetacularização do Direito Penal cria situações como a demonstrada de forma brilhante no episódio em questão, quando a sociedade reprova veementemente o ato de ter Victoria gravado o assassinato cometido por ela e seu marido, mas tortura-a e grava-a de forma igual. Nessa árdua busca da sociedade por uma punição exorbitante, parece ser esquecida a humanidade do agente que cometeu o fato delituoso, estando a coletividade, assim, propondo que seja feito para com o condenado o próprio ato que leva esta coletividade a condená-lo.


É indispensável, portanto, o episódio em questão para uma reflexão acerca desta “sede por justiça” – será que esta justiça será atingida por meio da retribuição do mal de forma igual? Ou encontra-se a sociedade simplesmente clamando para que mais um ente de seu corpo sofra?

Amanda Abreu
4° Período – Direito UFRN

23 comentários:

  1. Vc é maravilhosa, tô perplexa com esse episódio.

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  2. Isso é surreal. Não representa á nossa sociedade. Eu não vejo isso. Eu vejo menores estourarem e matarem e serem soltos. Eu vejo os "direitos dos manos" advogando por eles... Tanto é surreal, que não consegui achar aonde entrava á nossa realidade naquela série, quando parecia que ia entrar às situações se tornavam muito além do imaginável.
    Não acredito que as pessoas que pedem por uma redução da maioridade penal são torturadores. Ou pior, que estão fazendo igual. É isso que nós temos entre á maioria: o desejo de termos leis mais justas e éticas. Esse episódio passou longe demais do desejo das pessoas apesar de tentar representá-lo.

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    1. Não sei em país você vive, se vive no Brasil com certeza está colocando um tapa olho ! A nossa sociedades brasileira tem muito disso, trabalho na área e sei, em algumas situações é olho por olho e dente por dente, muitas vezes o ser humano e morto na rua por um crime que cometeu, porque outro ser humano ignorante se acha no Direito de fazer justiça com as próprias mãos, o Código Penal Brasileiro do nosso país tem leis ótima, uma pena que não executado da maneira correta.

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    2. Só estou vendo um mimimi sem noção. Pena desproporcional? Não creio que exista cartigo que faça essa mulher pagar por ter matado e filmado uma criança. Pena de morte ou prisão perpétua é muito branda para monstros assim. Vcs tem uma mania deturpada de querer ver humanidade em monstros, parem com isso e aprendam que existem doentes que não nasceram para viver em sociedade.

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    4. Lucas Snt0z, se ela é doente, deveria ser torturada?

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    5. O Lucas é a única pessoa lúcida por aqui

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    6. Doente ? Ela é um monstro que devia ser torturado sim, larga de passar mão em cabeça de bandido.

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    7. Esse Lucas realmente é um imbecil.

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    9. A série tenta mostrar um futuro tanto quanto sombrio e medonho e vemos que os medonhos disfarçados já estão por aí, não são "bandidos" mas são nazistas enrustidos pois parece que o sonho deles é ter um motivo pra cometer a justiça com as próprias mãos, o mesmo desejo de matar, porém procuram uma situação "socialmente aceitável" para libertar o que nem eles mesmos podem conhecer

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  3. Não sei em país você vive, se vive no Brasil com certeza está colocando um tapa olho ! A nossa sociedades brasileira tem muito disso, trabalho na área e sei, em algumas situações é olho por olho e dente por dente, muitas vezes o ser humano e morto na rua por um crime que cometeu, porque outro ser humano ignorante se acha no Direito de fazer justiça com as próprias mãos, o Código Penal Brasileiro do nosso país tem leis ótima, uma pena que não executado da maneira correta.

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  4. Acompanho essa série e já vi muitas estórias interessantes. Mas esse episódio não me agradou. Não vejo como uma narrativa que mostra pessoas vendo um espetáculo de maldade represente a sociedade como um todo. Quando um condenado na cadeira elétrica é posto de frente para os familiares da vitima para ser executado, a justiça faz isso para aplacar o sentimento de punição no coração das vitimas. Não faria sentido transmitir para pessoas que não tem nada a ver. Acredito sim na pena capital. Quem mata deve morrer. Minha opinião. Mas o castigo imposto nessa serie não tem sentido. Principalmente porque apagam a memória dela e a maior parte do tempo ela nem sabe porque está sofrendo. A ideia do castigo só faz sentido quando tem o intuito de corrigir. E só se corrige pequenos delitos. Se uma pessoa mata um inocente, para mim, ela perdeu o direito de viver. Deve ter um fim igual. Não precisa ser torturada porque não tem mais jeito para ela. O que é efeito com a mulher da série não tem um porquê. Não atinge nenhum objetivo.

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    1. Como já disse, não sou a favor de justiça com as próprias mãos. Mas se a sentença dela foi dada em um tribunal, é uma sentença prevista em lei, então acho sim que deve cumprir, conforme sentenciado.A sentença dela foi a mesma que ela deu a menina, que estava sendo morta, porém em vez de ajudar, ela filmou. Ela flashs de lembranças da punição, assim depois se fazer várias vezes com ela, como eu entendi que faziam, ela iria saber se tudo em um dado momento. Resumindo, se essa punição, fosse uma punição prevista em lei, acho justo ela pagar o que fez de acordo com a sentença que lhe foi dada. Pois, quem não quer sofrer as punições por violar a lei, não viole.

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  5. Acho que teve gente que não entendeu corretamente...O marido da Victoria que matou a criança e como ele cometeu suicídio se tecnicamente "Quem mata merece morrer" o homem que matou a criança já estava morto, a mulher dele que filmou seu marido cometendo essa atrocidade deveria receber outra pena, uma que esteja ao nível do que ela fez já que o que fizeram não é justiça e sim vingança.Pessoas doentes não merecem ser torturadas,não acredito que Depressivos,Esquizofrênicos,bipolares e entre outras várias doenças precisem de algo assim para melhorarem.Acredito que precisam de ajuda isso sim,médica ou o que for.

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    1. Olha a personagem não é colocada em uma perspectiva de doente e sim de assassino. Depressivo e esquizofrênicos não são assassinos. Não entendo está compreensão de que ela é doente. Ela sequestrou junto com o marido uma criança, cuidou desta criança e, quando resolveram matar, ela filmou.Pode ser considerada uma psicopata, pessoas que tem plena consciência do crime e não uma doente sem consciência do que está praticando. Não acho que se deva fazer justiça com as próprias mãos, mas se foi uma Juiz que determinou esta sentença, é justo que ela cumpra a sentença e receba a punição pelo seu erro, pois as leis são para ser cumpridas. Se não quiser receber qualquer tipo de sentença em um tribunal, prevista em lei, não descumpra a lei. Simples assim.

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  6. Para mim este episodio ta mais para uma especie de "bandidolatria" boa parte dos comentários defende o bandido. Tem um livro que fala bem sobre este assunto "Bandidolatria e Democídio: Ensaios sobre Garantismo Penal e a Criminalidade no Brasil" muito bom por sinal.

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  7. Que episódio doido! Black Mirror já tem episódios difíceis de digerir, e este sem dúvida foi o mais difícil. Vim procurar críticas a respeito para ver ser era isto mesmo que eu tinha entendido. É um dilema moral muito grande. Por que? Porque humanamente todos temos sede de justiça. E se há sede de justiça é porque a justiça é falha, principalmente a brasileira. Temos várias Victorias soltas por aí gozando indulto do dia das mães ( que elas mataram). Pena de morte? Nãoooo! Pouco demais para crimes ediondos. Acho que a série mesmo já responde a isto com o desfecho. Reviver aquela condenação todos os dias. Então, não precisa fotografar, nem divulgar. Só a pessoa viver até o fim da vida dela repensando, revivendo o que ela fez já, talvez, seja suficiente. Mas enquanto isto no Brasil...a Carolina Jatobá, aquela que ajudou a matar Isabela Nardoni, saiu para ficar o dia das crianças com os filhos dela. Enquanto a mãe de Isabela? Eim?? Eu não quero vê-la sendo torturada, eu só não quero vê-la solta. Ficou claro? Ou precisa desenhar?

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  10. Não concordo com a sua narrativa, mais ainda em se tratando de Brasil, onde o crime compensa. Sabemos que aqui, a condenação não é proporcional ao crime cometido.Esse é bem o pensamento da esquerda, onde quem comete o crime é "vítima da sociedade" e a verdadeira vítima? ahahah..essa é esquecida pelos direitos humanos.

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