Osso duro de roer

Repetindo (e expandindo) o sucesso do primeiro filme, Tropa de Elite está de volta. Novamente dirigido por José Padilha, Tropa de Elite 2 – o inimigo agora é outro aborda outros componentes da criminalidade. A corrupção na polícia e na política são a bola da vez, tratados de forma bastante impactante. Nas palavras do diretor,  ”O filme trata da relação entre segurança pública e financiamento de campanha. Faz ligação entre a segurança e a política”.
A questão dos direitos humanos e do garantismo penal também está presente no filme, personificada na figura de Fraga (Iradhir Santos), um militante da causa, que enfrenta os métodos e símbolos do Bope. É interessante como, ao longo do filme, as ideias acerca dessa questão são tratadas. Mesmo para quem tem alguma leitura sobre o pensamento de Beccaria ou sobre a noção do Direito Penal Mínimo, tais teorias parecem pequenas ante à complexidade das situações apresentadas. O respeito à dignidade dos apenados é comumente ignorado, e ainda mais comumente aplaudido pela sociedade. Uma visão pragmática tende a minimizar a importância dos direitos humanos, pelo menos em casos extremos. Do outro lado, há a voz que clama pela valorização desses direitos, há a visão que enxerga a possibilidade de se garantir a dignidade humana em toda e qualquer situação, sem que isso implique a fragilidade do sistema penal.
Mais sólido do que desejaria o Capitão Nascimento (Wagner Moura), o “sistema” está construído sobre o alicerce da corrupção – outra problemática analisada no longa. É uma situação generalizada, que envolve policiais e políticos e castiga a sociedade. A rigidez e força das mílicias é apresentada de maneira surpreendente e chocante. Compactuam com elas a mídia, os parlamentares e governantes. Compactuam também os cidadãos, público da mídia alienadora e eleitores dos políticos bandidos. Acontece na vida, acontece nos filmes, e é osso duro de roer.

Por: Hermano Faustino

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