O novo longa na netflix, dirigido
por Kornél Mundruczó, se assemelha com História de um Casamento (2019)
principalmente nos longos diálogos e foco na atuação. O enredo gira em torno de
um parto domiciliar mal sucedido. O casal principal é interpretado por Vanessa
Kirby (Martha)- já conhecida por
interpretar a jovem Princesa Margaret em The Crown – e Shia LaBeouf (Sean) .Os
primeiros 30 minutos do filme são o que realmente prende a atenção, pois é ali
que a expectativa se fixa. Ficamos procurando o que vai dar errado, pois tudo
parece perfeito. Somos apresentados a um jovem
casal que espera seu primeiro filho, tendo todos os preparativos já resolvidos:
carro, quartinho do bebê, férias do trabalho. Na noite em que a bolsa se rompe,
a parteira do casal não pôde comparecer, pois estava em outro parto e envia uma
colega. Mesmo para aqueles que não passaram pela experiência da maternidade,
Vanessa Kirby consegue passar de forma clara a dor e as outras emoções do
momento. O espectador se sente dentro da casa, e a câmera tem um papel
fundamental nisso, pois desliza pelos cômodos sem cortes.
Depois desse início intenso, o título
passa a se traduzir na história. Os desdobramentos do parto no estado emocional
da protagonista, que tem que retornar a uma rotina que agora conta com a
tentativa alheia de demonstrar uma empatia pelo que ocorreu com ela. Assim, os “pedaços”
de Martha são mostrados na história. Ademais, Sean lida com o luto de uma forma
diferente. Ele precisava dialogar com a companheira, mas a forma daquela de
lidar com a sua dor não a deixou fazer isso, o que se torna totalmente compreensível
para quem assiste. Assim, ele volta ao alcoolismo, vício que já tinha superado
e mantém um affair. O relacionamento
dos dois passa a ser cada vez mais distante, mesmo fisicamente, visto que
também nos despedimos do personagem no aeroporto.
Importante destacar que o caso é judicializado,
devido a um grande clamor social e mesmo pelo apoio da classe médica para a
condenação da parteira. Isso é de suma importância para o processo de cura da
protagonista que se vê obrigada, no tribunal, a encarar de frente o que ela
vinha tentando fugir.
Ainda, a relação conturbada de Martha
com a mãe e com a irmã parece se resolver, ou pelo menos melhorar bastante, com
a sua recuperação e reconstrução.
Também notei que alguns objetos possuem um significado especial no filme, como a maçã e a ponte, literalmente presentes do início ao final, que me pareceram demonstrar a capacidade de superação, seja pela abundância ou pelo fim da obra, respectivamente. O filme toca em diversos outros pontos sutis, como a valorização do dinheiro na entidade familiar, desafios da maternidade e o perdão. Assim, vale a pena assistir Pieces of a Woman.
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