A conversação e a moralidade cristã

 



Imagine que você é um detetive particular, imagine que você foi contratado para espionar e gravar o que duas pessoas estão falando enquanto caminham em círculos por uma praça pública movimentada, agora adicione a esta trama a carga emocional que você carrega por um de seus antigos trabalhos ter implicado em situações que você não considera corretas, indo drasticamente contra sua moral.


Esta pode ser considerada a sinopse do filme "A Conversação", dirigida por Francis Ford Coppola no ano de 1974. Nessa película, acompanhamos o detetive particular Harry Caul sujeito que se dedica a entregar os materiais de gravações que o são requisitados, não se preocupando no que acontece com eles. No entanto, é em um desses encontros para deixar a encomenda que Harry tem a sensação a qual se entregar os documentos estes poderão prejudicar os envolvidos nas fitas.


*SPOILERS


Mais do que uma trama enigmática, este filme traz um estudo de personagem muito profundo do protagonista. Desde o início do filme percebemos quanto Harry gosta de privacidade: ele fica surpreso e ao mesmo tempo irritado quando descobre que a administradora de apartamentos entra no seu e deixa as encomendas na mesa; vemos mais para frente que Harry tem um affair com uma mulher e que no decorrer do diálogo percebesse que ela não tem nenhuma informação sobre quem é Harry. Sua vida profissional e pessoal não tem limites claros, parece que ele está sempre escondido tentando parecer o menos possível, enquanto todos os profissionais do ramo o admiram ele por outro lado não parece ter família nem amizades. 


Outro ponto que chama atenção é sua fé cristã, ao ponto de falar o nome de Deus em vão causar raiva nele, ir com habitualidade se confessar ao padre, e até mesmo guardar uma estátua religiosa em sua casa. É essa característica que, após um trabalho bem feito, mas que teve conclusões trágicas, fizeram com que ele se mudasse para outra região, em busca de esquecer o passado. Só que com o caso atual ele pressente que essas situações trágicas possam ocorrer novamente. Essa é o grande debate moral que Harry tem que ponderar, se seu trabalho não é considerado uma peça da tragédia que pode acontecer ou baseado na fé cristã suas atitudes mesmo que não sendo as causadoras tem sua parcela de culpa.


O final vai deixar você surpreso, pode confiar. Além disso, a cena final faz valer todo o desenrolar da trama. Para dar uma palhinha: no final, o feitiço vira contra o feiticeiro.


Pedro Henrique

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