Resenha: Distrito 9 e a xenofobia


            A história começa com uma nave alienígena parando sobre a cidade de Johanesburgo, que é a maior cidade da África do Sul (país onde o diretor Neill Blomkamp nasceu), e lá fica presa por uma falta de combustível. Logo uma missão humanitária leva ajuda aos Alienígenas, que estão sem recursos para sobreviver, e os mesmos são colocados abaixo da nave e formam ali um distrito provisório que leva o nome do filme (District 9).
Pôster do filme Distrito 9, mostrando a nave e a favela
É importante notar que o filme todo se passa na África do Sul e que, neste caso, diferente da maioria dos filmes Hollywoodianos, os aliens estão à mercê da humanidade e precisam de ajuda. O problema é que os aliens acabam sendo marginalizados e o distrito acaba se transformando em uma enorme favela e a expansão dessa favela começa a chegar nas cidades próximas, vista toda a marginalização causada pelo governo a essa população alien, seguida do repúdio que os próprios humanos criam daquela comunidade decantada e vivendo de restos, o governo vê que é necessário transportar e expulsar todos daquela área mesmo depois de anos construindo ali suas vidas, isso com apoio e alvará tanto da população quanto da mídia. A partir disso, começa o desenrolar de uma trama que é uma clara alusão ao Apartheid, e o distrito uma grande representação de Soweto (cidade que nasceu e cresceu a partir de uma população imigrante de trabalhadores negros que eram proibidos de ocuparem as cidades “brancas” do país no regime Apartheid).


Distrito de Soweto
        Distrito 9 (filme)




            O protagonista do filme é Wikus Van De Merwe, um funcionário do governo que anda emitindo ordens de despejo para os aliens. Ele é a síntese de todos os preconceitos que a população humana tem com os aliens, chama-os de “camarões”, maneira pejorativa de inferiorizar a raça pelas diferenças e também de desumanizar, para assim o processo de apatia ser mais fácil. Isso aconteceu em vários casos da história do mundo, como com os índios brasileiros, que eram vistos como sem alma pela igreja, facilitando a escravização, ou os negros africanos, que eram vistos como uma raça inferior por vários estudiosos europeus no fim do século XIX. 

Alien que defende a propriedade contra o protagonista Wikus
                Em meio ao conflito no qual o alien se nega ao despejo, o personagem Wikus acaba sendo infectado e passa por um processo de mutação no qual seu corpo começa a se transformar em um alien. Nesse momento, ele percebe que todas as ações preconceituosas e xenofóbicas  se voltam contra ele, para aí ele perceber todo o preconceito que aquela raça sofria simplesmente por ser diferente. A partir daí, passa a ser caçado pelo governo que defendia e é negado até pela própria esposa. Todos os meios que ele viveu e socializou, portanto, o renegam, chegando ao ponto em que ele se une aos aliens numa investida de tentar escapar do planeta e achar uma cura.
               A grande jogada do filme está em trazer um protagonista totalmente detestável e desprezível da perspectiva do telespectador, que é consciente da alegoria que é o filme, porém com a mudança jogada e o personagem mudando de posição, nós percebemos que tudo aquilo que ele fazia não era por ser alguém ruim, mas sim porque aquele preconceito tinha sido inserido em sua cabeça de diversas formas. O governo e a mídia sempre destratavam os aliens, ou por declararem que os mesmos consumiam muito recursos, ou por colocarem os aliens em meio ao lixo, ou mesmo os tratando como perigosos, sendo que no fim o governo acaba sendo o verdadeiro inimigo por não ter implantado verdadeiras políticas de inclusão.

Take final do filme, o protagonista Wikus mostrando o que é viver à margem da sociedade, ser visto como um animal mesmo com um olhar tão vivo e humano
Felipe Silva Motta
Ciências Sociais - 3º Período
Membro do Cine Legis 2018

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