“O Povo contra Larry Flint” e o exercício da liberdade de expressão



O filme de 1996 é uma cinebiografia de uma das mais famosas personalidades estadunidenses das ultimas décadas: Larry Flynt. A obra se inicia na década de 50 quando Flynt é apenas uma criança pobre no interior do Kentucky e perpassa toda sua trajetória até o seu polêmico julgamento na Suprema Corte dos Estados Unidos. 
Antes de retiramos alguma reflexão do seu julgamento, devemos entender primeiramente quem era essa figura tão singular.
Na década de 70, Larry Flynt era um proprietário do clube de stripper Hustler Go-Go que, a fim de aumentar seus lucros, começa a produzir e divulgar panfletos publicitários com fotos das mulheres que se apresentavam em seu estabelecimento. A empreitada traz resultados, então ele passa a publicar textos acompanhando as fotos de mulheres nuas e assim surge revista Hustler. A revista ganha bastante circulação e se tonar líder de vendas nos EUA, superando outras concorrentes do ramo pornográfico como a Playboy. O seu criador torna-se um milionário excêntrico (muito bem retratado no filme por Woody Harrelson).
Flynt representa, na vida real, o estilo de vida que sua revista promove. Ao mesmo tempo em que leva uma vida regada de festas, sexo e dinheiro, ele também transforma-se no principal alvo dos setores mais conservadores da sociedade americana, principalmente dos mais religiosos. O ponto de virada da sua vida acontece quando, saindo de um dos vários julgamentos em que a revista era processada, ele é alvejado por um atirador que era contra as publicações da revista. Larry sobrevivia, mas perde o movimento dos seus membros inferiores, e em razão disso assume para si a posição de principal defensor da liberdade expressão.
É a partir daí que se tem início o principal embate judicial do filme.  A pós a publicação de uma sátira do evangélico Jerry Falwell, a revista Hustler é processada por difamação. A matéria consistia numa entrevista falsa que parodiava uma propaganda da Campari e afirmava que a primeira relação sexual do reverendo Falwell teria sido dentro de um banheiro público com a sua própria mãe. O caso se estende por todas as instâncias americanas até alcançar a Suprema Corte.


                O filme discute qual o limite de um dos direitos fundamentais para o exercício da personalidade e para preservação da dignidade humana, a liberdade de expressão.  Flynt, em uma de suas falas, afirma “estou sendo culpado por mau gosto”; mais à frente, o seu advogado reforça “é uma questão de gosto não de lei”. Nesse sentido, o debate do filme seria até que ponto você pode punir juridicamente uma opinião, mesmo que ela seja uma sátira, afirmando que ela representa uma brincadeira de mau gosto ou que ela lhe causou danos .
                A discussão trazida por “O Povo contra Larry Flint” é muito importante para compreensão das liberdades civis que cada um possui e para consolidação de uma sociedade democrática.  Com base nessa obra, é possivel dar uma nova análise a acontecimentos recentes, como o caso das exposições do Queermuseu e do massacre no Charlie Hebdo.
Afinal, até onde vai o livre exercício da liberdade de expressão? Larry Flynt responde esse questionamanto parafraseando uma frase de George Orwell: “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.


Ficha Técnica
Título original: The People vs. Larry Flynt
Ano: 1996
Direção: Milos Forman
Origem: Canadá/Estados Unidos                                            
Gênero: Biografia/Comédia/Drama
Duração: 129 minutos

                             





Juan Lucas de Oliveira Melo
2° Período – Direito UFRN

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