Bacurau: "O sertão é do tamanho do mundo"

O pássaro bacurau, por onde voa? 


        Já disse Guimarães Rosa, “O sertão é do tamanho do mundo” e assim se mostra Bacurau, exibido em 290 salas de cinema por todo o Brasil, vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Munique e também dono do prêmio do júri no Festival de Cannes, na França, essa produção filmada na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba foi feita não só para percorrer o mundo, mas principalmente a sua gente. Com marcas latentes de um nordeste interiorano, o filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles conta a história de uma distopia na cidade de Bacurau que, estranhamente, some do mapa.
Nesse momento, as dúvidas e os nós são formados na cabeça do telespectador: como isso foi possível? Por que essa cidadezinha não existe mais? Alguém vai sentir falta? O que pode acontecer quando não se existe, quando se perde a identidade? E essa pergunta é feita no filme: “Quem nasce em Bacurau é o quê?”. A resposta não podia ser outra: “É gente!”. Gente essa muito unida, inteligente e valente, que não tem medo de lutar pela sobrevivência; ou melhor, se tem medo, enfrenta, porque é assim que a resistência é formada, com mecanismos táticos bem formulados e esperança no plano de permanência na terra.
Sem dúvidas, o enredo proporciona as mais diversas sensações naquele que se propõe a esta viagem. Após uma hora do longa, ficamos na fase do “o que que está acontecendo?!”, ou temos cenas que nos remetem a períodos históricos, e logo depois, estamos torcendo para ver uma cabeça estourada!! Tarantino perde para esse filme. Mas sem spoilers...
Além do enredo cheio de imãs a nossa atenção, temos personagens complexos, os quais causam interesse e até mesmo identificação. Alguns são estereotipados, como o político corrupto e oportunista, outros deixam o questionamento “ela é bipolar?”. Em meio a variedade de tipos, sabemos muito bem quem não queremos parecer nessa história.
Por isso, Bacurau é sobre identidade, união, organização, pertencimento, resistência, violência institucionalizada, colonização, povos. Tudo isso e muito mais com as marcas linguísticas, o cenário, as composições no geral ensejam reflexões e também incômodos capazes de fazer com que saiamos do cinema e digamos: você precisa assistir Bacurau!

Por Caroline Bento
Direito UFRN
Membro Cinelegis



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