Na manhã de ontem (04/06), o Centro Acadêmico Amaro
Cavalcanti promoveu uma Assembleia Estudantil em que foi apresentada aos
discentes do curso a nova matriz curricular, além de dados referentes à última
pesquisa realizada pelo COMPAD (Comissão Permanente de Acompanhamento Docente).
Na esteira do evento, em especial das falas da professora Karol Marinho e do
professor Ângelo Menezes, proponho uma reflexão acerca da Educação Jurídica,
tomando como ponto de partida o clássico filme Sociedade dos Poetas Mortos
(1989), dirigido por Peter Weir.
Na película, o espectador acompanha a chegada do
professor de literatura John Keating a um internato de meninos extremamente
conservador e tradicional, no qual os alunos vivem em uma constante pressão
quanto ao rendimento acadêmico e às escolhas profissionais. Keating, com sua
didática inovadora e dissonante dos academicismos arraigados na escola,
conquista os estudantes, que, antes descontentes com a sala de aula, motivam-se
na vida estudantil e descobrem a si próprios em um processo de crescimento que
envolve desde questões do cotidiano adolescente até dilemas mais sérios, como a
decisão da carreira a ser seguida posteriormente.
Em um claro exemplo do que seria uma educação
libertadora, o professor Keating fez com que a experiência escolar intervisse
de alguma maneira no universo particular dos alunos, libertando-os, a partir da
poesia, de um automatismo que os condenava a uma vida medíocre. Ao dá-los a
autonomia e a liberdade na educação, Keating os torna seres donos da própria
vida, prontos para construírem seus caminhos.
O enredo do filme, embora situado no contexto da
educação básica, pode colaborar para uma discussão sobre a Educação Jurídica no
ensino superior. Tendo-o em mente, é válido se questionar: será que, em
nosso ambiente universitário, há um processo educacional que ressoe a
experiência ocorrida entre o professor Keating e seus alunos? Inegavelmente,
não.
Indo totalmente na linha contrária da educação
libertadora, temos um ensino desestimulador que parece alheio à realidade
existente além dos muros da universidade. Em meio a professores que funcionam
no modo automático, com uma didática retrógrada e imutável – muitas vezes
abusiva, fulcrada em um terror psicológico -, os alunos se desmotivam e não
veem mais a educação como um instrumento de intervenção social, um dispositivo
de mudança, uma vez que eles mesmos não se sentem tocados por ela.
Leis,
doutrinas, jurisprudências se tornam apenas o conteúdo da prova objetiva da
semana que vem e o estudante perde a noção da importância que tudo aquilo
possui na realidade prática, assumindo uma postura de indiferença perante aquilo que “aprende”. Assim, a vida universitária torna-se insignificante,
resumida a chamadas e notas na média, num teatro em que os professores fingem
dar aula e os alunos fingem aprender.
Há, obviamente, exceções nesse quadro. Entretanto,
elas precisam ser a regra. A universidade deve ser um espaço vivo, de ciência,
partilha, aproximação e crescimento. Só assim ela formará juristas de qualidade,
preparados para, de alguma maneira, intervir na sociedade. É difícil apontar
qual é o melhor caminho para se alcançar essa Educação Jurídica ideal, mas é
certo que, sozinha, a mudança na matriz curricular não trará os resultados
esperados, pois as questões que assolam o curso no momento vão bem além disso e
estão associadas a uma cultura do medíocre enraizada em quase todos que o compõem –
docentes, discentes, coordenadores etc.
Por fim, pensar um novo modo de educar é sempre um caminho pedregoso, repleto de represálias. É, antes de tudo, opor-se a um modelo tradicional que é cômodo, porém problemático. Portanto, em meio a obstáculos que venham a aparecer nesse percurso, é primordial sempre lembrar o conselho do professor Keating: não podemos aceitar o medíocre. Lutemos, pois, por uma vida universitária extraordinária. Carpe diem.
Lucas José de Mello Lopes
Direito - UFRN
Membro do CineLegis (Gestão 2018)
Ótimo texto, Lucas! Não vejo a hora de você ser professor!😊
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