Aniquilação
(no original: Annihilation) é antes de tudo uma clássica ficção científica, que
se de uma narrativa baseada em conceitos científicos para tratar de forma
alegórica sobre um tema muito mais profundo.
Na trama
do filme um meteorito atinge um farol no sul da Flórida, uma espécie de “bolha”
se forma sobre a região, passando a expandir-se. Chamada de “O Brilho” e delimitando a misteriosa “Área X”, esta barreira se revela uma passagem de mão
única, já que ninguém que a atravessa consegue retornar – com exceção do
sargento Kane (Oscar Isaac), que, depois de um ano desaparecido, surge
subitamente diante da esposa Lena (Natalie Portman). Fisicamente afetado pela
experiência, ele entra em coma, levando Lena a se oferecer para acompanhar a expedição seguinte à Área X a fim de tentar encontrar alguma forma de curá-lo.
Nessa nova expedição Lena ainda é acompanhada pela à psicóloga Dra. Ventress, à paramédica Anya Thorensen, à física Josie Radek e a geomorfológa Cass Sheppard.
Contudo,
para além do que se transmite expressamente em tela, podemos perceber que os
temas centrais do filme dizem respeito à depressão, o suicídio e nossa
tendência à autodestruição através de gestos e decisões que reconhecemos
como potencialmente devastadores. Em outras palavras, é possível perceber que
todo o enredo se desenrola por meio da temática do sofrimento humano.
Exemplo disso podemos
retirar dos diálogos das personagens. “Todas temos problemas”, diz a
geomorfóloga ao analisar por que se ofereceu, ao lado de quatro
outras mulheres, para uma missão considerada suicida. Em outra situação, Quando
Lena questiona a Ventress sobre o motivo para seu marido participar de uma
‘missão suicida’, a psicóloga rebate: “Quase ninguém comete suicídio, mas quase
todos nos autodestruímos. De alguma maneira, em alguma parte de nossas vidas, nós
bebemos, usamos drogas, desestabilizamos um emprego bom ou mesmo um casamento
feliz”.
Adotando o
ouroboros como um símbolo temático da narrativa (sugerindo uma ideia de ciclo
que lava a própria aniquilação), o filme busca discutir a tendência de muitos à autodestruição ao criar paralelos entre estas ações e as células que,
multiplicando-se descontroladamente, transformam a criação de vida em um
caminho para a morte através do câncer. Ao mesmo tempo, a depressão surge como
motivador importante na decisão das personagens de se oferecerem para uma
missão suicida, tampouco sendo coincidência o fato de Lena dizer para um
desacordado Kane que sabe por que este entrou na Área X (algo que descobriremos
ao longo da narrativa).
Amarrando
todos estes temas ao abordar as transformações pelas quais as personagens
passam em função de incidentes traumáticos, do câncer, do alcoolismo e da
depressão, o filme parece tentar nos convencer que a autodestruição faz parte do exercício do direito a liberdade e autodeterminação, e que estaríamos todos, em maior ou menor grau, buscando
uma forma de nos autodestruirmos.
Juan Lucas, 3°
Período
Direito – UFRN
Membro do Cine Legis
desde 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário