Filme premiado no Festival de Sundance, mas diretora Maïmouna Doucouré recebeu ameaça de morte. Polêmica? Temos.
O filme franco-senegalês Mignonnes (2020) mal
tinha estreado na Netflix e a hashtag pedindo o cancelamento da plataforma de
stream já estava nos trending topics (eu inclusive já estava dando like aos
posts desse cancelamento sem nem ter assistido 😓). O motivo para tamanha
repulsa foi a sexualização de meninas de 11 anos, o possível incentivo à
pedofilia, além da descrição do filme falar que a protagonista, vivida pela
atriz de 14 anos Fathia Youssouf, explora
a própria feminilidade indo de encontro a sua família tradicional, passando uma
ideia feminista bem empoderada, mas boa parte do público não enxergou isso no
longa-metragem. Após muitos comentários e petições, o cartaz de divulgação da
Netflix foi retirado. Mas o lançamento aconteceu repleto de muitas críticas novamente.
Vamos aos fatos: a produção cinematográfica
narra a história de Amy, uma criança de 11 anos, que sai do Senegal com sua mãe
e irmão mais novo para viverem na França porque seu pai terá uma segunda
esposa. Nesse novo ambiente e situação, a protagonista fica muito amiga de Angélica, acabando
por entrar no grupo de dança Mignonnes, composto por elas e mais duas meninas,
todas da mesma idade.
A partir daí, os comportamentos de Amy mudam
drasticamente. A menina que antes participava das tradições da família e era
bem dedicada à criação dos irmãos, passa a consumir cada vez mais mídias hiper
sexualizadas, com clipes extremamente sensuais, roupas curtas/apertadas, o que
influenciam em uma nova Amy, a qual passa a se dedicar obsessivamente pela
dança a ponto de se envolver em muitas polêmicas. Muitas mesmo.
Então, é nesse ponto que se concentra o
grande impacto desse filme: escancarar sobre as consequências sociais do quão
objetificada e vendida é a imagem do corpo, até mesmo de crianças, mas muitas
vezes é normatizada ou tida como tradição. A tia de Amy estava noiva quando
tinha 11 anos. Ademais, o filme tenta abordar a passagem complexa da vida
infantil para a adolescência, bem como a falta de conhecimento presente nesse
momento.
Não há dúvidas de que esse filme é extremamente
pesado (tive pesadelos depois de assisti-lo); embora tenha cenas pontuais bem
poéticas – como o imponente vestido menstruando ou o abraço da mãe e filha com
roupas tão brilhosas e arrumadas em completa oposição de uma com a outra – a
maioria delas causam uma revolta, aflição terrível, por isso a classificação
indicativa de 16 anos, logo, as atrizes não podem assistir, e isso foi mais um frisson.
Mas, claramente, não é para crianças assistirem, o filme é impulsionador para
uma discussão adulta muito pertinente na sociedade capitalista, machista e
exploradora da atualidade.
OBS: Isso não é necessariamente uma
recomendação. É um desabafo.
Caso assista, é válido ver a entrevista da
diretora também, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=UnpuqptL8eg
Matéria recomendada: https://www.omelete.com.br/netflix/por-que-cuties-da-netflix-incomoda-tanto
Por Caroline Bento,
Membra Cinelegis.
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