segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ninguém é normal: Atypical



Recentemente, a netflix lançou a terceira temporada de seu original Atypical, que vem conquistando fãs em todo o mundo.

A série trata de um garoto que está dentro do espectro autista, Sam Gardner, assim como outros personagens conhecidos por nós, como o Dr. Shaun Murphy (The good doctor) e Sheldon Cooper (The big bang theory). Não é mais um show de humor sobre famílias americanas, é muito mais, apesar de tirar boas risadas. Consegue retratar a forma que o Sam impacta as pessoas ao seu redor, por meio de histórias paralelas dos outros personagens. A Casey por exemplo, irmã do Sam, é uma garota descolada, mas que quer mais para si, o que acaba sendo complicado, considerando que o irmão necessita de muita atenção dos seus pais.

É incrível ver a evolução do personagem principal ao longo da série, além de adentrar nesse mundo fascinante que é o do espectro. Sam demonstra para seus amigos e familiares que consegue sim ter uma vida mais indepente e de coisas “normais”, como faculdade, namoro e trabalho. Outro detalhe muito legal da série é que ela é bem diversificada. O melhor amigo do Sam é indiano, sua psicóloga é oriental, e isso não se torna tema central da trama, são apenas pessoas fazendo suas atividades cotidianas.

As temporadas são curtas com cerca de 8 a 10 epísódios de 30 minutos, mas que prendem a atenção do espectador do início ao fim. Uma boa opção caso você esteja procurando algo leve para as férias.

Por fim, termino com minha frase preferida da série, dita para o Sam: cara, ninguém é normal.

Por Mirella Silva
Direito UFRN
Membro Cinelegis




quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Suprema



O filme Suprema (On the Basis of Sex, EUA, 2018), da diretora Mimi Leder, traz a trajetória de Ruth Bader Ginsburg, com Felicity Jones como protagonista. Ruth Ginsburg foi a segunda juíza a compor a Suprema Corte nos Estados Unidos, em 1993.
O filme mostra desde o seu primeiro dia como estudante em Harvard, passando por momentos marcantes em sala de aula, aliados a dramas particulares em sua família, além de cenas memoráveis nas quais a jovem Ruth tenta se inserir no mercado de trabalho como advogada.

Tendo trabalhado vários anos como professora, Ruth se envolve com seu marido em um caso de desigualdade de gênero em direito tributário, no qual o cliente é um homem.
A partir daí, o filme toma novo rumo e tudo passa a girar em torno das teses que Ruth desenvolve acerca do tema da igualdade de gênero, culminando com uma cena de Tribunal, na qual ela faz uma defesa oral perante três juízes.

O filme retrata de forma fidedigna as dificuldades históricas sofridas por mulheres advogadas em se firmar na profissão, mesmo com todo brilhantismo demonstrado por Ruth como universitária e como profissional.
Um filme cheio de pequenos detalhes, como a relação de Ruth com sua filha. Atente para a sutileza da cena em que há a troca do termo na petição, de sexo para gênero, sugerida pela datilógrafa da universidade onde Ruth é professora.
Em suma, um filme que inspira mulheres e homens a atuarem como protagonistas da transformação social.

Por Maria Luísa Medeiros
Direito UNI-RN
Membro Cinelegis

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

TOP 05 FILMES BRASILEIROS IMPERDÍVEIS




Em uma época em que o governo tenta destruir nosso cinema, buscando acabar com a Ancine e outros incentivos culturais, é extremamente necessário que valorizemos nossa arte e nosso cinema de altíssima qualidade. Dito isso, trago a vocês cinco filmes imperdíveis de nosso Cinema.

1 – Jogo de Cena (2007)




Dirigido por Eduardo Coutinho

Querem ouvir histórias FANTÁSTICAS sobre mulheres incríveis? Negras, brancas, pobres, ricas, mães, avós, filhas, jovens, estudantes, heterossexuais, lésbicas, artistas, etc. Todas contando as histórias de sua vida.

Depois de ouvir 83 mulheres contarem suas histórias de vida, o Coutinho selecionou 23 delas. Misturando realidade e dramaturgia, convidou uma parte delas para contar suas experiências em um teatro e, ao mesmo tempo, chamou atrizes para interpretarem algumas dessas histórias, transformando tudo numa grande experiência única.

2 –  A Negação do Brasil (2000)


Dirigido por Joel Zito Araújo

Documentário que faz uma análise da representatividade negra e dos atrizes e atores negros nas telenovelas brasileiras.

3 -  Que Bom Te Ver Viva (1989)


Dirigido por Lucia Murat

Documentário  nacional que traz depoimentos de mulheres que foram torturadas durante a ditadura militar. A própria Lucia Murat (diretora) também foi torturada.
"Essa é a minha história e vocês vão ter que me suportar!"

4 – O Céu de Suely (2006)


Dirigido por Karim Aïnouz

Uma inspirante história cheia de cultura nordestina.
Hermila (Hermila Guedes) é uma jovem de 21 anos que está de volta à sua cidade-natal, a pequena Iguatu, localizada no interior do Ceará. Ela volta juntamente com seu filho, Mateuzinho, e aguarda para daqui a algumas semanas a chegada de Mateus, pai da criança, que ficou em São Paulo para acertar assuntos pendentes. Porém o tempo passa e Mateus simplesmente desaparece. Querendo deixar o lugar de qualquer forma, Hermila tem uma ideia inusitada: rifar seu próprio corpo para conseguir dinheiro suficiente para comprar passagens de ônibus para longe e iniciar nova vida.

5 – O Menino e o Vento (1967)


Dirigido por Carlos Hugo Christensen

O engenheiro José Roberto visita a cidade de Bela Vista, no interior de Minas Gerais, famosa pelo vento forte que a sacode dia e noite. Lá conhece um moleque, Zeca da Curva, que se diz enfeitiçado pelo vento. Compartilham a mesma adoração pelo vento, até que, um dia, o menino desaparece. Tempos depois, José Roberto é chamado para responder processo, acusado como responsável pelo mistério e de ter mantido com Zeca da Curva “uma estranha amizade”.

Baseado no conto O iniciado do vento de Anibal Machado.

Por Lucas Alencar
Direito - UFRN
Membro CineLegis

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

I Kill Giants



        I kill Giants (Eu mato gigantes) é daqueles filmes que escondem surpresas ao expectador e, por ter sido feito pelos mesmos produtores de um filme famoso de ficção e fantasia, nem de longe deixa pistas de seu ramo dramático e de suspense. Àqueles que escolhem filmes pelas ilustrações imaginam um filme do tipo seção da tarde com um final feliz e tudo em um padrão ideal. “Eu mato gigantes” é um filme para ser assistido com atenção, pois se apresenta de uma forma tão despretensiosa no tocante à sua temática que chega a ser pueril, mas traz lições de grande valia. Conta a história de uma garotinha, Bárbara Thorson, que acredita ser uma heroína que tem a função de proteger a humanidade da invasão de gigantes ancestrais que só visam a destruição de tudo e tirar a vida de todos. Segundo a visão da protagonista, que é uma criança sem amigos e em uma família sem pai, o enfrentamento dos monstros é a única maneira de viver uma vida normal e essa luta vai além da compreensão física é uma luta psicológica e cada um usa as armas que tem.
Por Eduardo Vale
C&T UFRN
Membro Cinelegis




quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Bacurau: "O sertão é do tamanho do mundo"

O pássaro bacurau, por onde voa? 


        Já disse Guimarães Rosa, “O sertão é do tamanho do mundo” e assim se mostra Bacurau, exibido em 290 salas de cinema por todo o Brasil, vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Munique e também dono do prêmio do júri no Festival de Cannes, na França, essa produção filmada na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba foi feita não só para percorrer o mundo, mas principalmente a sua gente. Com marcas latentes de um nordeste interiorano, o filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles conta a história de uma distopia na cidade de Bacurau que, estranhamente, some do mapa.
Nesse momento, as dúvidas e os nós são formados na cabeça do telespectador: como isso foi possível? Por que essa cidadezinha não existe mais? Alguém vai sentir falta? O que pode acontecer quando não se existe, quando se perde a identidade? E essa pergunta é feita no filme: “Quem nasce em Bacurau é o quê?”. A resposta não podia ser outra: “É gente!”. Gente essa muito unida, inteligente e valente, que não tem medo de lutar pela sobrevivência; ou melhor, se tem medo, enfrenta, porque é assim que a resistência é formada, com mecanismos táticos bem formulados e esperança no plano de permanência na terra.
Sem dúvidas, o enredo proporciona as mais diversas sensações naquele que se propõe a esta viagem. Após uma hora do longa, ficamos na fase do “o que que está acontecendo?!”, ou temos cenas que nos remetem a períodos históricos, e logo depois, estamos torcendo para ver uma cabeça estourada!! Tarantino perde para esse filme. Mas sem spoilers...
Além do enredo cheio de imãs a nossa atenção, temos personagens complexos, os quais causam interesse e até mesmo identificação. Alguns são estereotipados, como o político corrupto e oportunista, outros deixam o questionamento “ela é bipolar?”. Em meio a variedade de tipos, sabemos muito bem quem não queremos parecer nessa história.
Por isso, Bacurau é sobre identidade, união, organização, pertencimento, resistência, violência institucionalizada, colonização, povos. Tudo isso e muito mais com as marcas linguísticas, o cenário, as composições no geral ensejam reflexões e também incômodos capazes de fazer com que saiamos do cinema e digamos: você precisa assistir Bacurau!

Por Caroline Bento
Direito UFRN
Membro Cinelegis



Referências:





domingo, 11 de agosto de 2019

O leitor


O Leitor




Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém.”
Mark Twain

O Princípio da Moralidade e suas armadilhas fustigam nossas mentes em muitas obras-primas cinematográficas. Uma delas é “Sonata de Outono”, do genial Ingmar Bergman, outra é “O Leitor” (The Reader, 2008), filme do talentoso diretor inglês Stephen Daldry, baseado no livro de Bernhard Schlink, publicado em mais de trinta idiomas. Esse grande e elegante filme, silenciosamente arrebatador, completa em 2019 onze anos e ainda nos paralisa diante do tabu do analfabetismo, além de sofismas jurídicos, como calar ser sinônimo de anuir, assentir, aquiescer. A ideologia dos vencedores estabelece que o preceito legal está acima do moral e, portanto, há legitimidade na culpabilidade do silêncio contra si mesmo.
O grande fardo aqui é o segredo-tabu que carrega a personagem principal. Admitir essa deficiência, seja no âmbito privado, seja no público, contribuiu de forma determinante para o destino de Hanna Schmitz.
Para ler esta resenha, é preciso despojar-se da tensão provocada pelo chamado “spoiler”, que no meu ponto de vista não tem todo esse poder para prejudicar a fruição de uma obra. O mestre do suspense Alfred Hitchcock, por exemplo, mostrava desde o início do filme o que supostamente deveria ser conhecido apenas no final do filme. O suspense era distribuído ao longo da narrativa, provocado por meio de outros artifícios.
Aqui, claro, não é intenção atuar como Hitchcock. Pelo contrário, seu legado nos “autoriza” a investir prontamente no que poderia vir a ser chamado de ponto alto do filme: a protagonista é iletrada, não sabe ler e escrever. É por essa razão que originalmente a obra se chama “Der Vorleser” (“o leitor em voz alta”), ou seja, trata-se de alguém que lê para outra pessoa, tal como fazem as mães para seus filhos, voluntários para deficientes visuais que não sabem ler em braille ou netos para seus avós, algo corriqueiro no contexto familiar e na história da humanidade.
Porém, esse fato nada mais é do que o pontapé da trama, o ponto crucial, aquele que secretamente prejudica a decisão judicial, ou seja, a sentença criminal proferida em desfavor de Hanna Schmitz. E apenas nós sabemos disso, além da ré e do estudante de Direito Michael Berg, com quem Hanna teve um romance e dele ouviu muita literatura nos encontros em sua casa, quando sua profissão não lhe trazia consequências nefastas à sua vida pessoal e a de outras pessoas.

O tabu do analfabetismo assola toda atmosfera do filme e desde o início o espectador capta o desconforto da protagonista em relação a isso. O que o espectador não sabe, a princípio, é que isso irá repercutir de forma decisiva na trama.
Michael Berg tem quinze anos, quando, nos anos cinquenta, em Neustadt, conhece e se envolve secreta e amorosamente com Hanna Schmitz, cerca de vinte anos mais velha. Quotidianamente, o romance deles se sustenta com banhos e leitura de livros em voz alta, além de sexo. O que poderia ser apenas um amor clichê do adolescente pela balzaquiana, na verdade é um exercício filosófico monumental, do tamanho da capacidade de o espectador sentir as dores humanas por meio do cinema.


Porém, do ponto de vista de Michael, um dia Hanna simplesmente desaparece, sem deixar rastro algum. O jovem Berg passa a não mais vê-la e o caso de amor continua existindo apenas no seu universo particular. Na verdade, Hanna recebe uma promoção no trabalho, mas não pode assumir o novo cargo devido à incapacidade de ler e escrever.
O grande susto do filme reside no fato de que anos antes, na década de quarenta, Hanna tenha trabalhado para a SS, ou seja, a “Schutzstaffel”, que significa “esquadrilha de proteção”, Organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler.
Mas o filme não é apenas isso, ele é de uma riqueza psicológica, histórica, filosófica e jurídica ímpar. Essa plataforma nos transporta para o universo da ética e da práxis das decisões judiciais, dos tribunais de exceção, dos sofismas, das falácias, das crenças e dos valores compartilhados pelos membros do Estado-Juiz, ou seja, para a cultura vigente normatizada e aceita de forma muitas vezes mecânica. Afinal, se está posta como certa, deve ser boa. Será? Será sempre?
Hanna não é uma personagem fácil. Kate Winslet, por vezes, a trata de forma “abrutalhada”, ainda que magistralmente interpretada, pois na construção dessa mulher, percebemos uma sensualidade contida, o pavor em seus olhos, o desconforto constante e uma trajetória de vida marcada pela tragédia. Ela passa dificuldades e igualmente cria outras dificuldades para si mesma. Compaixão, no filme, só vemos no jovem e no adulto Michael Berg, interpretado respectivamente por David Kross e Ralph Fiennes. Observamos, ainda, o renomado ator alemão Bruno Ganz como o professor Rohl, que percebe o conflito interno do jovem estudante de Direito Michael Berg.
A culpa alemã pelo holocausto, pelo nazismo, pelo regime totalitário é tão marcante que promoveu um momento posterior também questionável: um tribunal de exceção, que julgou como crimes fatos que à época em que foram praticados não o eram. Nesse caso, não houve a aplicação da máxima latina “Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege”, que significa “não há crime, nem pena sem lei prévia”, que nos remete ao já consagrado Princípio da Legalidade, que no Direito Penal preceitua que não há crime sem lei anterior que o defina, nem há pena sem prévia cominação legal.
Ainda que haja correntes outras, no escopo do Direito Internacional e dos Direitos Humanos que advoguem a favor do tribunal de exceção contra os chamados crimes contra a humanidade, como de fato foi o holocausto, elas não são unânimes. Afinal, para as mazelas do nazismo não terem ocorrido, todos deveriam ter descumprido as ordens emanadas pelo Estado.
É importante alertar para os dois fatos excludentes que compõem o ponto controvertido acerca do crime que foi julgado como sendo uma espécie de homicídio qualificado, que no Brasil de hoje teria pena de reclusão, de doze a trinta anos, como pode ser verificado no atual Código Penal brasileiro: Art. 121, matar alguém, § 2º, se o homicídio é cometido de forma qualificada, de determinado modo, como no inciso IV, à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
Assim, o dilema resume-se a não permitir que fossem abertas portas para salvar vidas humanas versus assegurar que essas pessoas não fugissem (ordem que deveria ser cumprida pelas guardas da SS). Em suma, trata-se de não deixar escapar versus deixar morrer; porém, não foi Hanna quem escreveu o relatório, como nós já sabemos... O impasse de abrir ou não abrir portas, à época, respectivamente, configurava-se em descumprir ou cumprir ordens laborais do regime nazista.
Além disso, percebemos as nuances e contradições no próprio Michael, em que o homem ama e o cidadão pune. Pune mesmo? Não foi a própria Hanna que assim o quis, a fim de camuflar seu analfabetismo e manter intacta, acerca desse aspecto, sua vida objetiva? Michael amou, apenas, incondicional e transitivamente. Era tanto amor... “Apenas” amor, por Hanna e pela história subjetiva que povoou sua mente-coração por toda uma vida. A “obrigação moral” de influir no resultado do julgamento e alterar a sentença sem consentimento da ré teria sido ético sob o ponto de vista particular? Ora, se a própria Hanna renega seu destino, por quê Michael deveria macular seu desejo mais sigiloso revelando seu analfabetismo?
Não se trata, aqui, de enaltecer algozes, pois no Estado de Direito tolerância não significa ingenuidade; mas, trazer à discussão o tema da segurança jurídica, da reserva legal, dos Princípios e da colisão de princípios... É público e notório que Auschwitz foi o maior local de assassinatos em massa da história da humanidade.

O filme tem a exata capacidade de nos mostrar o sentimento aflitivo de Michael diante do tribunal em que está sendo julgada Hanna. Vemos esse jovem estudante de forma introspectiva, contemplativa e passiva sofrer. Esse mesmo Michael segue, a seu modo, assistindo Hanna até o fim da vida.
É importante lembrar que, objetivamente, fica evidente no filme, para o espectador, que a tudo assiste pelos olhos e ouvidos de Michael, a inocência de Hanna; porém, ela é julgada culpada e recebe como pena passar uma longa temporada na prisão, o terceiro e comovente ato deste grande filme.
Busca-se, ainda, como sugestão, não apenas o filme, mas, sobretudo, o livro O Leitor, que foi escrito por um renomado jurista e escritor alemão: Bernhard Schlink. Assista ao filme, leia o livro, discuta em sala de aula... O Leitor é uma adaptação fiel, em termos de roteiro, assim como é esteticamente perfeito, visualmente lindo, filmado em Heildelberg e em Frankfurt, com grandes interpretações, além de ter concorrido a e ganhado diversas premiações de relevo internacional.




Não importa o que eu penso.
Não importa o que eu sinto.
Os mortos continuam mortos.”
Hanna Schmitz




Maria Luísa Medeiros
Direito UNI-RN
Membro Cinelegis



segunda-feira, 1 de julho de 2019

O Nó do Diabo


Antes de temerem anjos, demônios, fantasmas e gênios malignos, nossos ancestrais temeram a extinção, o risco de serem subjugados na competição por recursos. Ter seu território invadido por selvagens que não compartilhavam de sua ordem de sentidos foi o primeiro terror.
Com custo a homeostase, seja biológica ou social, é mantida diante da entropia universal e a vida resiste ao caos da morte. Nossos territórios, geográficos ou não, intraindividuais e extraindividuais, representam esse esforço de manutenção da ordem interna pela ressignificação da contradição em competição. O terror psicológico que instiga o medo da loucura, por exemplo, explora a desordem, a incoerência a qual todos nós estamos sujeitos enquanto sujeitos. Desse medo, criam-se territórios como Id e superego, e a contradição dessa unidade autônoma que é o indivíduo finalmente é apartada.
O filme de terror paraibano, “O Nó do Diabo” (2018), bem podia ser um documentário. Apenas precariamente ele se situa no gênero terror por referências, linguagem cinematográfica ou inclusão de elementos sobrenaturais. É um baita esforço para nos vender como terror algo que acontece rotineiramente há seculos. Afinal, parece que existem alguns pré-requisitos mais importantes para classificar um filme como terror ou um atentado como terrorista. Primeiro, a territorialidade. O ato deve acontecer no espaço que é tido como nosso. Um corpo como o nosso, um país como o nosso. E aqui a identificação é subjetiva, posto que um negro martiniquenho pode se identificar mais com um branco parisiense do que com um senegalês. Em segundo lugar, o inimigo é de outro território. Por isso, o atentado promovido por jovens de direita em uma escola, assim como o genocídio em Ruanda, não são atos terroristas. Mas o 11 de setembro é.
Diante disso, o maior mérito do filme é nos fazer enxergar o regime de terror as quais estão sujeitas pessoas que foram arrancadas a força de seus territórios, sendo-lhes negada sua história, sua cultura, sua terra. Em cinco histórias ambientadas em diferentes épocas – 2018, 1987, 1921, 1871 e 1818 – tomamos consciência desse inferno que é (re)viver em constante terror, uma situação de sofrimento que não finda nem com a morte. Seus filhos e netos são obrigados a assumir o mesmo papel no teatro trágico. Porém, não se trata de um inferno a-histórico transcedental. A história começa com o sequestro do primeiro preto e a chegada do primeiro navio negreiro, e se repete com os mesmos rostos. Somos obrigados a reencenar o sofrimento dos nossos ancestrais. Mas quem são os fantasmas que nos obrigam a isso? Que respostas gritam as ossadas caladas por uma pá de terra?
O filme parece apontar que se eles têm fantasmas, nós também temos os nossos. Resta-nos resistir com nossos delírios, maldições, feitiços, mandingas ao exorcismo e a fogueira. Aceitar nosso papel nessa história macabra, mas não ser alvo fácil, ser osso duro de roer e, às custas de todo sangue já derramado, tomar nossa terra.


Victor Cecílio
Membro Cinelegis

segunda-feira, 24 de junho de 2019

A vida é uma festa


O filme conta a história de Miguel Rivera, um garoto de 12 anos de idade que sonha em ser o maior músico do México, tal qual seu ídolo Ernesto de la Cruz, que fez fama décadas atrás - antes de morrer de forma trágica. Não obstante, o impasse do filme se dá pelo fato de sua família ter banido a música de suas vidas há décadas atrás, tendo como atividade o ofício de sapateiros, sendo os mesmos renomados em sua cidade.
O enredo do filme começa a se tornar mais intenso no Día de Muertos, no qual os mexicanos celebram com festa a visita de seus entes passados, dessa forma, Miguel decide desafiar sua família em prol de seguir seu sonho e, após uma sucessão de eventos, acaba cruzando o limiar entre o mundo dos vivos e dos mortos. Nesse sentido, ele se encontra imerso em um  grande problema: precisa voltar até o amanhecer e, para isso, consegue a ajuda do Ernesto de la Cruz ( fato curioso que o mesmo ainda permanece um astro depois de morto), sendo que, caso não consiga voltar irá permanecer para sempre no mundo dos mortos.
Dessa forma, Miguel vai adquirir dois grandes aprendizados: correr atrás de um sonho tem um preço e que sua família, mesmo não o apoiando e com todos os defeitos ainda é muito importante. Somado a isso, ele descobre que,  morrer não é um problema em si, mas muito pior do que estar morto é ser esquecido por aqueles que se ama. 
Somado a isso, é premente destacar que, Viva: A Vida é uma Festa é um filme que faz um contraponto importante entre a valorização da tradição por parte da família Rivera, ao mesmo tempo em que aborda os costumes de uma cultura bastante forte e complexa como a mexicana. Dessa forma, torna-se notório que, o tema central do filme é a importância da família, seja daqueles membros que ainda estão vivos ou daqueles que já se foram, não obstante, o filme em momento algum  retrata um culto aos mortos, mas sim uma celebração da família para que, uma vez vivos, possamos valorizá-los como se deve e reconhecer como ela ( a família) nos molda e nos dá suporte para nos tornarmos quem realmente somos.


Rayssa A. Ferreira
Membro Cinelegis

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Chatroom

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Chatroom conta a história de cinco jovens que em plena adolescência se encontram em salas de bate papo na internet. Isso, em 2010, época que as pessoas ainda não conheciam ou tinham muito acesso a ela, mas que as redes sociais já eram febre. William, o protagonista vive depressivo, pois acredita que seus pais dão mais atenção para o seu irmão, assim ele cria um perfil no bate papo e conhece os outros jovens. Com a intenção de destruir ou perturbar a vida dos outros usuários ele instiga e planta ideias que na maioria das vezes são infundadas só para satisfazer seu ego e deixar as pessoas na mesma situação que ele. 
Cada personagem tem suas características: Eva, tem problemas de autoestima, Will tem depressão, Jim é o solitário, Emily é a pessoa tímida enquanto Mo é o rapaz com problemas de relacionamento.
Nos aspectos técnicos, é um filme com um trilha sonora bem impactante que dá a impressão de imersão no thriller, tem uma fotografia com cores vibrantes, a direção é muito competente e inovadora(Quando eles estão na sala de bate-papo o figurino dos atores muda e eles estão em um espaço físico), o único ponto que deixa a desejar é a sua roteirização que foca muito em na relação de William e Jim, e não desenvolve bem os outros personagens. 
O filme aborda muitas questões sensíveis como: depressão, suicídio, solidão, pedofilia. Além disso, o diretor já avisava que esses tipos de relações tóxicas pode levar as pessoas a cometerem atos que elas nunca fariam, como é o caso do suicídio induzido por usuários contra uma menina. A situação de discriminação de pessoas de outras etnias também está presente no filme. 
Atualmente, onde as pessoas se sentem mais objetificadas e sua felicidade está no número de curtidas, além de o número de pessoas que só criticam o modo de viver das outras e não tecem nada construtivo só aumenta, esse filme nos faz refletir se as redes sociais estão realmente para o bem das pessoas.
Pedro H. A. Carvalho
Membro Cinelegis