terça-feira, 23 de abril de 2019

Top 5: Filmes e documentários sobre xenofobia

O que é xenofobia
A xenofobia é um fenômeno social que já tem longo histórico na cultura humana, todavia vem aumentando e ganhando destaque nos últimos anos em diversas partes do mundo com ações violentas, comportamentos extremistas, acirrando situações de rivalidade étnica desmedida e sem justificativa e demonstrações de indiferença e falta de compaixão pelo sofrimento alheio, em especial, quando há divergência cultural. No Brasil, por exemplo, nos últimos anos destacam-se movimentos xenofóbicos em relação a sírios, haitianos, venezuelanos, bolivianos, além de outros cidadãos sul-americanos.


  1. Human Flow: Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir (2017)

É um documentário do chinês Ai Weiwei que realiza um apanhado em campos de refugiados da África, Ásia e Europa explicando ao espectador, suscintamente, o motivo político, religioso ou étnico que deu origem à fuga massiva de habitantes, e as principais rotas escolhidas por cada um






  1. Fogo no Mar (2016)

Documentário italiano do diretor Gianfranco Rosi acerca da ilha de Lampedusa e o fluxo diário de centenas de imigrantes rumo à Europa. Com uma película extremamente refinada e de alta qualidade filmada inclusive de forma subaquática, mostrando o percalços enfrentados pelos imigrantes.





  1. Salam Neighbor (2015)
Lançado em 2016 pelas produtoras Living on One Dollar e 1001 MEDIA, o documentário Salam Neighbor tem em seu título um duplo sentido pois significa "olá" vizinho, mas em árabe a palavra árabe "salam" também significa "paz". O filme mostra a visão de dois cineastas que inseridos em um campo de refugiados sírios mostram uma visão íntima da mais terrível crise humanitária do mundo.





  1. Dheepan - O Refúgio (2015)
A história gira em torno de três personagens todos nascidos no Sri Lanka, que um dia recebem uma oportunidade de ouro: fingir que são outras pessoas e, assim, deixar a guerra que toma conta do local rumo a uma vida mais pacífica na Europa. A questão é que os três mal se conheciam neste momento e, para manter as aparências, precisam ao menos aparentar ser uma família comum. Outro problema: apenas a garota sabe francês, os demais ainda precisam aprender a língua.





  1. A jaula de ouro (2013)
Três adolescentes guatemaltecos sem documentos viajam ao norte com a esperança de uma vida melhor nos Estados Unidos. Eles terão que se defender tanto da polícia da imigração como das gangues locais, enquanto se locomovem ilegalmente de trem.



Eduardo da Costa Vale
C&T - UFRN
Membro Cinelegis

domingo, 14 de abril de 2019

O sopro de esperança em O Menino que Descobriu o Vento



Antes de escrever este post, fui pesquisar um pouco mais sobre esse filme e os primeiros sites que já resenharam sobre ele foi o Razões para Acreditar, Huffpost Brasil entre outros. Realmente, sites focados em mostrar a esperança e a força de insistir amaram essa obra. São 1 hora e 53 minutos de muito aperreio! Só alivia nos últimos 15 minutos! Entretanto, vale muito a pena.
Essa produção da Netflix é baseada na história de William Kamkwamba, um garoto de 13 anos que não aguenta mais ver sua família e seus amigos passarem por dificuldades devido a uma forte seca na região do Malawi em que ele mora e, com isso, nenhuma plantação consegue se desenvolver.
Para Kamkwamb, ir à escola é a grande oportunidade de mudar de vida e ajudar os seus pais. Ademais, fica muito claro, desde o começo do filme, o quão inteligente e habilidoso ele é. Porém, como a família não consegue vender a plantação, faltam recursos para pagar a mensalidade.
Diante dessas dificuldades, ele, após ter o direito à educação negado por não poder pagar, decide aprender sozinho. Na pequena e única biblioteca do local, o autodidata aprende sobre engenharia e energia eólica. Na cara e na coragem, ele acha que pode construir um sistema de moinho e de bombeamento de água, o qual transformará a vida dos moradores de sua aldeia. MAS quem vai dar credibilidade e, principalmente, os recursos materiais necessários para uma ideia, para muitos, insana como essa?! O "aumigo" inseparável Khamba?! Sem spoiler :/
A história do jovem africano ficou conhecida após a participação na conferência TEDGlobal 2007, na Tanzânia, além disso, esse exemplo de vida ganhou o mundo por meio de um livro autobiográfico lançado em 2009. Dez anos depois, tornou-se narrativa cinematográfica, dirigida pelo britânico Chiwetel Ejiofor, intérprete do pai de Kamkwamb no longa.
Enfim, para aqueles que se interessam em culturas, costumes e realidades diferentes da qual estamos rodeados, bem como não se importam em derramar bons litros de lágrimas, adicionar essa produção incrível na lista é extremamente válido. 

Caroline Bento
Direito - UFRN
Membro cinelegis

terça-feira, 9 de abril de 2019


Mononoke Hime é um clássico filme animado de 1997, produzido pelo Studio Ghibi, um estúdio japonês conhecido pela produção de animes de alta qualidade, os quais apresentam tramas profundas e reflexivas. O filme se passa na época feudal do Japão, quando a terra estava coberta por florestas, nas quais viviam os espíritos dos Deuses. Durante muito tempo, homens e animais viveram em harmonia, mas, com o passar dos anos, a maioria das grandes florestas foi destruída. As que se salvaram eram guardadas por animais gigantes, súditos do Grande Espírito da Floresta, que tinham a missão de proteger as florestas remanescentes dos demônios.
A história começa a partir de Ashitaka, um jovem príncipe de uma aldeia. Ashitaka anda sobre um alce chamado Yakul. Avisado por aldeões de que algo estranho está acontecendo na floresta próxima, vai depressa à torre de vigia, onde está Jin, para saber o que está acontecendo. Chegando, Ashitaka e Jin avistam um demônio saindo dos limites da floresta e avançando para a região da aldeia. O demônio, na verdade, é um javali, um dos animais gigantes que guardam as florestas, mas foi possuído por algo maligno. Diante disso, Ashitaka vai atrás da criatura, e Jin, preocupado, diz para que Ashitaka não deixe que o demônio lhe toque. Apesar do aviso, Ashitaka, tentando defender seu vilarejo, é atingindo e ferido pelo demônio. Mesmo assim, consegue atingir uma flecha na cabeça da criatura, que desfalece e cai ao chão. Logo após, a anciã da aldeia chega ao local no qual Ashitaka e o demônio lutaram e, dirigindo-se ao javali-demônio quase morto, reverencia-o. Porém, o ser lhe diz que em breve os humanos sentirão o seu ódio e sofrerão tanto quanto ele sofreu. Assim, deu seu último suspiro, e morreu. 
Ao final do dia, a anciã descobre que o javali foi possuído por puro ódio, eis que uma pedra de ferro se alojou em seu corpo, provocando-lhe intensas dores e terrível sofrimento. Na mesma ocasião, a anciã pede para Ashitaka mostrar seu braço ferido. Mostrando-o, vê-se um braço inflamado com manchas roxas e profundas indicando que a maldição que revestia o javali lhe alcançou. Então a ancião prediz que a infecção se espalhará por seu corpo, matando-o, e que o Príncipe não pode fugir desse destino. Mas o esclarece que pode enfrentá-lo, buscando uma forma de se livrar da maldição. Assim, Ashitaka parte para uma jornada em busca de uma cura, tendo como única pista a pedra de ferro que atingiu o javali. Durante a jornada, conhece Jigo, um monge que lhe diz que pode encontrar a solução para a maldição no território do Espírito da Floresta. Ashitaka também descobre que a pedra de ferro é, na verdade, uma bala de arma de fogo fabricada na Cidade de Ferro, a qual é comandada por Lady Eboshi. Eboshi destruía a floresta, bem como matava os animais da localidade, a fim de expandir seus territórios. Ainda durante a jornada, Ashitaka se depara com uma jovem selvagem, que vive entre lobos, conhecida como Princesa Mononoke. Esta luta junto aos animais da floresta, tentando combater Lady Eboshi e os humanos da Cidade de Ferro.     








            Assim, o longa gira em torno da batalha travada entre Lady Eboshi e a Princesa Mononoke. Ambas são personagens determinadas, fortes e destemidas. Lady Eboshi, com o fito de expandir seus domínios, apresenta-se como uma verdadeira líder, demonstrando compaixão e sendo fonte de inspiração para os cidadãos da Cidade de Ferro. Já a Princesa Mononoke, criada desde bebê por lobos, luta pela floresta ferozmente, enfrentando sozinha diversos adversários, e é capaz de desestabilizar os negócios da Cidade de Ferro. Com isso, Eboshi e Mononoke representam, respectivamente, o embate entre os humanos e a natureza: os humanos lutam para dominar a terra, enquanto a natureza revida, buscando se preservar.
         Apesar da eminência das personagens femininas, o protagonista do filme acaba sendo Ashitaka. Este jovem, que apenas buscava uma cura para a maldição que o assombrava, acaba se envolvendo na guerra estabelecida entre Eboshi e Mononoke. Apesar de conhecer as duas inimigas e criar certos laços com ambas, não se filia a nenhuma delas: enquanto Eboshi e Mononoke tentam se destruir a todo o custo, Ashitaka deseja encontrar uma solução que permita a coexistência entre os humanos e a natureza. O motivo de Ashitaka ser neutro não é trabalhado de forma aprofundada pelo filme. Todavia, no início do longa, é possível observar que o protagonista vive num vilarejo que busca respeitar a natureza. Por exemplo, Ashitaka vive acompanhado de Yakul, um alce vermelho. Todos os que avistam Yakul demonstram-se surpresos, o que indica que Yakul é um animal raro. Além disso, Ashitaka e Yakul possuem um elo de irmandade admirável, ao passo que ambos expressam grande fidelidade um para com o outro. Outro fato relativo à neutralidade de Ashitaka é percebido quando a anciã da aldeia reverencia o javali que atacou Ashitaka, denotando que aquele povo consegue conviver pacificamente com as conseqüências advindas da natureza, sejam elas boas ou ruins. Por tais motivos, é possível entender porquê Ashitaka procura encontrar uma solução pacífica para o conflito entre de Eboshi e Mononoke. Em razão da neutralidade de Ashitaka, o Espírito da Floresta, uma entidade responsável por manter o equilíbrio da flora, apresenta certa empatia pelo protagonista, eis que também almeja harmonizar o convívio entre os opostos. Portanto, a missão de Ashitaka é apaziguar a intriga entre Eboshi e Mononoke, demonstrando que elas se deixaram consumir pelo ódio, o mesmo ódio que afetou o javali, transformando-o num demônio que simplesmente almeja a destruição.
No entanto, os planos de Ashitaka não saem como o esperado. Eboshi intensifica seus objetivos e forma um exército para matar o Espírito da Floresta, acreditando que a morte dele acarretará na sucumbência dos animais. Mononoke, por sua vez, alia-se a uma orda animais, a fim de acabar com Eboshi e destruir a Cidade de Ferro. Na batalha, os animais acabam perdendo suas forças diante das armas e explosivos de Eboshi, e esta avança para o território do Espírito da Floresta. Mononoke não consegue impedir o encontro de Eboshi com o Espírito da floresta, que é atingindo por uma bala da arma de Eboshi. O Espírito perde sua cabeça com o tiro, e os subordinados de Eboshi a coletam (pois havia uma crença de que a cabeça do Espírito da Floresta concedia imortalidade). Porém, o Espírito não morre, mas incorpora uma forma furiosa e gigantesca, e começa a destruir tudo o que está a sua volta, a fim de recuperar sua cabeça. Diante da massiva destruição, não resta outra alternativa a não ser fugir. Para isso, Eboshi e Mononoke acabam se ajudando para sobreviver.
Ao final da trama, Ashitaka acaba convencendo os subordinados de Eboshi a devolver a cabeça do Espírito, que, pegando-a, logo se acalma e restaura a integridade da floresta. Mesmo após tais acontecimentos, Mononoke e Eboshi parecem não superar sua rivalidade, visto que Mononoke se recusa a viver com humanos, afirmando que nunca irá perdoá-los, e Eboshi declara que reconstruirá a Cidade de Ferro. Por sua vez, Ashitaka, como personagem neutro, dispõe-se a ajudar na reconstrução da Cidade de Ferro, e a visitar Mononoke na floresta. Trata-se, portanto, de um final pessimista, no qual as rivais apenas aceitam a situação, mas não alteram suas motivações iniciais.
O filme, utilizando-se de elementos do folclore japonês, revela uma grande metáfora acerca da interação homem-natureza, a qual, ao longo dos anos, tornou-se destrutiva: os humanos, com seu desejo expansionista insaciável, tentam dominar a natureza, e esta apenar tenta se defender. O personagem do Espírito da Floresta também tem grande peso na trama, pois manifesta o caos que as ações humanas podem causar à natureza, desestabilizando-a e gerando danos à própria humanidade. No seu passo, Ashitaka reproduz uma relação homem-natureza de mútua convivência e respeito, assemelhando-se aos índios, ou então aos que se dedicam à vida rural. Também, outra mensagem que o filme passa é de que aqueles que se deixam consumir pelo ódio se tornam maléficos, corrompidos e destrutivos, a ponto de serem comparados com um demônio. Logo, a concepção de demônio trazida pelo filme não é a cristã, mas retrata um ser que se entrega aos sentimentos negativos e que é movido apenas por seus intentos malignos.
Mononoke Hime se mostra como uma história atemporal, trazendo reflexões cabíveis até os dias de hoje. Mesmo sendo antigo, possui qualidade gráfica agradável, e apresenta uma trilha sonora magnífica, que coaduna perfeitamente como as cenas mais calmas, bem como com as que exigem mais ação. Porém, não é uma animação para o público infantil possui há cenas com violência significativa. Ademais, é um dos melhores filmes do Studio Ghibi, sendo uma boa opção para aqueles que buscam conhecer melhor o universo dos filmes em anime.


Abner Pereira Matos
Direito - UFRN
Membro do Cine Legis
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