sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

LEVIATÃ DE ANDREY ZVYAGINTSEV: ABUSO DE PODER ESTATAL E IMPERMANÊNCIA




O polêmico filme Leviatã (Rússia, 2014), do renomado diretor Andrey Zvyagintsev, foi escolhido para resenha do CineLegis pela alta qualidade cinematográfica, narrativa dramática no contexto do Estado de Direito, repercussão na imprensa, prestígio mundial de crítica e público, método alternativo de distribuição e decorrências restritivas na legislação cultural da Rússia. Zvyagintsev é um expoente do “realismo social” e o cinema russo é um dos destaques do cinema autoral europeu.

A história se desenvolve a partir da desapropriação de um terreno de família, situado em uma área hoje muito valorizada. Com base nas Decisões emanadas do Poder Judiciário, a vida do homem simples, o protagonista Kolya, toma um rumo de inquietante impermanência, um caldeirão de emoções que se inicia com Ato do Poder Municipal e só piora a cada cena, em que perder sua casa passa a ser o menor dos seus problemas. “Construí isso aqui com as minhas mãos. Minha vida toda é aqui. Meu avô morou aqui, o meu pai”, diz Kolya ao amigo e advogado Dmitri.

O filme se desenvolve num curto período de tempo, com cenas dramáticas e juridicamente relevantes, em que tudo se passa “dentro da lei”, com base em artigos dos Códigos de Processo Civil e Penal. Pelo prisma do Direito, o filme dialoga intimamente com instituições relativas à proteção estatal e à Justiça, como Prefeitura, Ordem dos Advogados, Polícia, Delegacia, Penitenciária, Promotoria e Tribunal.



Ainda que inspirado na história do norte-americano John Marvin Heemeyer, em 2004, a narrativa de Leviatã se passa na atualidade russa, na pequena cidade costeira de Pribezhny, no mar de Barents, filmado em órgãos municipais reais, na cidade de Teriberka, com foto do presidente Vladimir Putin na parede e 35% de seu orçamento financiado pelo Ministério da Cultura.

        Leviatã é considerado uma obra-prima, uma crítica mordaz ao abuso de poder estatal e possui uma mensagem universal em defesa da Democracia e do Estado de Direito, em qualquer país. A belíssima fotografia de Mikhail Krichman e a trilha sonora impactante de Andrey Dergachev e Philip Glass (Akhnaten, 1983) não apenas cumprem seu papel no filme, elas trazem a aflição contida no roteiro em forma de sinestesia para o espectador.

Leviatã venceu o prêmio de “melhor roteiro” no Festival de Cannes e o de “melhor filme estrangeiro” no Globo de Ouro. Já o Golden Eagle da Rússia limitou-se a premiar o diretor e dois atores. Foi também com Oleg Negin que Andrey Zvyagintsev escreveu o roteiro de “Sem Amor”, sua mais nova obra-prima.




A película agora está disponível em aplicativos comerciais de exibição, como Google Play Filmes, mas foi por meio de cópias digitais “piratas” que o filme se distinguiu. Como sofreu boicote das salas de cinema da Rússia, o diretor incentivou que as pessoas assistissem ao filme ilegalmente por meio de downloads não pagos, alcançando amplos círculos de espectadores em todo mundo. No caso de Leviatã, considero as legendas da Art Subs mais interessantes do que as legendas oficiais de Cláudia Bertolucci, por retratarem com mais clareza as cenas de Tribunal.

 Não apenas a literatura russa goza de imenso prestígio como fonte de análise por meio de suas obras-primas clássicas, também o cinema russo contemporâneo é profícuo para o estudante de Direito que busca ampliar seu repertório cultural e senso crítico. O filme faz referência direta ao livro Leviatã, de Thomas Hobbes, e ao Livro de Jó, da Bíblia, o que nos deixa margem para novas discussões.


 Elenco impecável e seus personagens:
- Aleksey Serebryakov interpreta “KOLYA” (NIKOLAI SERGEYEV), o mecânico protagonista;
- Elena Lyadova interpreta LILYA, esposa de Kolya;
- Sergey Pokhodaev interpreta ROMA, filho de Kolya;
- Vladimir Vdovichenkov interpreta DMITRI (“DIMA”), amigo e advogado de Kolya;
- Roman Madyanov interpreta VADIM SHELEVYAT, prefeito de Pribezhny;
- Anna Ukolova interpreta ANGELA, amiga do casal e trabalha com Lilya;
- Aleksey Rozin interpreta PASHA, amigo do casal, policial e marido de Ângela;
- Sergey Bachurskiy interpreta STEPANYCH, amigo do casal e coronel da Polícia.



 Onde assistir: a cópia pirata circula livremente pela internet, legendada pela Art Subs, ou pelo Google Play Filmes.

 Maria Luísa Medeiros, UNI-RN, 10 dezembro 2018

The mask you live in

He wears a mask, and his face grows to fit it”. (George Orwell)

Jennifer Siebel Newsom em 2011 escreveu, produziu e dirigiu o documentário "Miss representation", a respeito da má representatividade feminina, cuja poderosa reperscussão culminou na criação do "The representation project", um projeto que utiliza as mídias como catalizadoras de uma transformação cultural.

Nesse sentido em 2015 ela lançou sua segunda produção fílmica: "The mask you live in". Dessa vez aborda sobre a masculinidade heteronormativa hegemónica e os seus possíveis danos à sociedade, a todos os sexos, mas dando ênfase aos meninos, em razão da imposição dos conceitos patriarcais sobre a tradicional masculinidade—tomando a famosa frase de Simone de Beauvoir analogicamente: não se nasce homem, torna-se homem— no intuito de mostrar que outras masculinidades são possíveis.
O documentário explora de forma bastante sensível como a construção de conceitos herméticos e estereótipos de masculinidades afetam a vida de incontáveis meninos e jovens em todo o mundo, prejudicando-os em seu desenvolvimento psicológico e emocional ao longo da vida. É uma fratura exposta no sistema de repressão e pressão emocional em que são criados e desenvolvidos os homens na sociedade patriarcal em que vivemos, na qual são ensinados desde pequenos a "não chorar" (pois é "coisa de menina") e a "ser um homem". Mas o que significa ser um homem? Será que ser um homem é ser agressivo, insensível, ter habilidades atléticas, pouca inteligência emocional e ter o dom dos números e da engenharia, ou isso é representativo das construções de estereótipos e das narrativas limitativas de gênero, e de sexo, desenvolvida por nós ao longo do tempo?
Frases como "boys don't cry", "be a man" e "man up" são umas das mais destrutivas da nossa cultura e não passam de construções de linguagens para silenciar meninos e homens, o que, junto com os estímulos de videogames violentos, exaltação poética dos arquétipos masculinos na televisão, no cinema, nas mídias em geral e músicas que incitam o machismo e a misoginia, são um terreno fértil para a violência florescer. É preciso que fique claro que a masculinidade patriarcal hegemônica não é orgânica, é reativa, ou seja, os homens demonstram mais agressividade e menos empatia porque são socializados assim. É uma reação às nossa ações (ou à falta delas): à criação deficiente dos pais, à ausência de educação escolar sexual (que inclua igualdade e diversidade) e emocional e o estímulo ao consumo de mídias violentas, o que culmina em uma hipermasculinidade nociva.
Nós construímos uma forma de masculinidade tão fragilizada que os jovens sentem a necessidade de prová-la o tempo todo, seja ao praticar "bullyng", atos de vandalismo, usar drogas ou assediar mulheres. E muitas vezes quando o menino se nega a praticar "bullying" ou outros atos para "provar a sua masculinidade" ele passa a sofrer o "bullying", por não se encaixar no que documentário chamou de "caixa da masculinidade" (os tão famosos estereótipos), o que muitas vezes pode levar a depressões e inclusive suicídios.
Acredito que seja o momento de repensar a masculinidade de uma forma mais crítica e expandir/desconstruir o que significa ser um homem, o que implica em incluí-los no processo de combate ao modelo hegemônico de masculinidade e de tradição dos privilégios machistas encabeçado pelos movimentos feministas, afinal o modelo masculino atual é a raíz do problema de desigualdade e consequente violência de gênero (a qual é vivida pelas mulheres, mas é de responsabilidade dos homens).
Dessa forma seria importante que o os homens percebessem a importância da desconstrução da masculinidade hegemónica e fossem incluídos no compromisso da referida luta a fim de serem conscientizados que seja por ação, por omissão, cumplicidade ou indiferença são parte do problema e que, por isso, devem ser parte da solução. Serem conscientizados da importância da construção de novos modelos de masculinidade que repercutam em uma mudança nas estruturas patriarcais atuais, através de uma flexibilização desse modelo e incorporação de formas mais sadias de se relacionar socialmente, através da expressão de afetos, comunicação horizontal, despatriarcalização do amor romântico, autocrítica, redefinição de papeis de gênero e formas alternativas e pacíficas de resoluções de conflitos, o que já vem sendo entendido pelo chamados "nuevos hombres", ou seja, os homens igualitários afetados pela atual crise de masculinidade e que marcham nas ruas ao lado das mulheres por uma cultura mais saudável e consequentemente uma sociedade mais igualitária.
Em suma, acredito que essa questão deve ser tratada de forma inclusiva, empática e pluridisciplinar e que sua resolução deve recair sobre a sociedade enquanto estrutura coletiva, não excluindo os homens (que se identificam com os feminismos) dos movimentos feministas apenas por serem homens. É certo que os homens não precisam enfrentar metade dos medos, frustrações e discriminações que as mulheres precisam enfrentar no decorrer da vida, contudo as mulheres também devem se conscientizar que os os homens também têm, como demonstrado no documentário, fragilidades pessoais para lidar, cuja intersecção entre ambas as questões é o machismo. Esse sim o verdadeiro inimigo a ser combatido para a construção de uma "nova sociedade".
Ana Luiza Tinoco
Mestra em ciências criminais na universidade de Coimbra e doutoranda em estudos de gênero no Instituto de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa. 

A desmemória de Alphaville: cidade sem partido e sem palavras.



Alphaville é um filme meio sci-fi meio noir produzido em 1965 por Godard em que somos inseridos na trama de Lemmy Caution, um detetive das chamadas “terras estrangeiras” que se infiltra em Alphaville (uma cidade distópica futurista controlada por um computador chamado Alpha 60) como Jackson, um jornalista de NY. O plano de Lemmy é encontrar o colega de profissão Henry Dickson, investigar o desaparecimento de outros cinco agentes e destruir o Alpha 60 e o seu criador para evitar uma Guerra intergaláctica. 

Nessa sociedade planejada tudo é controlado pelo Alpha 60, caracterizando um verdadeiro totalitarismo tecnocrático onde o coletivo é exaltado em detrimento dos individuos, os quais tiveram seus horizontes artificialmente limitados e seus sentimentos e emoções aniquilados. Alpha 60 enuncia que “O presente é a forma de toda a vida (…) antes de nós nada existiu aqui”, configurando uma anulação da memória, da existencia individual e, portanto, de qualquer eventual resistencia.

 Afinal, pensar criticamente em Aphaville é proibido. Sociólogos, professores, poetas, filósofos e artistas são exilados, internados, executados ou impelidos a cometer suicídio. Um personagem é executado por lamentar a morte de sua esposa pois o lamento também é proibido segundo a biblia de Alphaville, que, na verdade, é um dicionário onde diariamente palavras sāo proibidas. Amor, paixāo, lamento, ternura, coragem, consciência. O porquê enquanto pergunta (por quoi) é abolido, deixando lugar apenas ao porquê enquanto resposta (parce que). Palavras que desencadeiem sentimentos, sensações ou questionamentos sāo restritas pelo super-olho onipresente, na garantia da manutençāo da ordem e do que o sistema autoritário chama de pessoas normais, mas que Lemmy chama de mutantes.

 A imaginação não-policiada é o inimigo soberano, portanto na distopia de Alphaville ninguém permitirá que você sinta nem que voce sonhe, inclusive no início do filme, quando Lemmy chega ao quarto do hotel a mulher que o acompanha indica o local dos tranqüilizantes no banheiro. Ninguem permitirá tambem que voce chore.

 É na busca pelo ex-agente secreto Henry Dickson que Lenny encontra sua principal arma, dada por Henry antes de sua morte, o livro “Capital da Dor” do poeta Paul Éluard. Assim, Lemmy se torna o guardião das palavras proibidas e quando interrogado pelo Alpha 60 na central de controle afirma que “a poesia transforma a noite em luz”, e confunde a máquina, que compreende palavras isoladas, mas que nāo compreende figuras de linguagem e lirismos. Ao mesmo tempo que confunde e desafia o Sistema, salva a personagem Natasha, filha do criador do Alpha-60, ao ler o mesmo livro e resgatar nela a sensaçāo da palavra, mesmo sem a compreensāo do seu significado. O milagre do resgate da memória da palavra através da poesia.

 Eu assisti Alphaville pela primeira vez há alguns anos e ele se tornou meu filme preferido de Godard e um dos meus preferidos de todos. Mas hoje, ao assistí-lo novamente, ele me proporcionou algo novo, uma triste analogia com a realidade brasileira atual. Comecando pelo nome Alphaville, o qual foi utilizado pra fazer referencia a condominios fechados brasileiros em que os moradores tem a sua “liberdade” vigiada constantemente, mas são compensados por um futuro seguro e distante da presença de indesejáveis intrusos. Ficção e realidade numa relação simbiótica com a cultura do medo, vista no filme atraves do isolamento, alienação e automação dos habitantes, que ocupam não-lugares o tempo todo: zonas de transição como corredores, escadarias, escritórios, quartos de hotel e elevadores. 

Mas o que mais me chamou atençāo nessa coincidência com a realidade brasileira atual é a correlaçāo entre a proibiçāo do pensamento critico, da desconstruçāo, do questionamento (o por que?) e das palavras com o movimento “Escola sem partido”, consubstanciado nos PL 193/2016, PL 1411/2015 e PL 867/2015. Projetos que visam limitar a atuação dos professores para impedir que eles “promovam suas crenças ideológicas e partidárias em sala de aula”, criminalizando o chamado “assédio ideológico”. 

Uma verdadeira afronta ao princípio constitucional do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, assim como o da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, considerando como válidos determinados conteúdos que servem à manutenção do status quo e como doutrinários aqueles que representam qualquer visão crítica. Um projeto para silenciar vozes, buscar estabilidades e criar novos espaços de conforto e conformismo social, cultural e intelectual. A instabilidade, o diferente, a emergência, a diversidade incomodam. Discutir as desigualdades sociais, o feminismo, a discriminação sexual, entre outros assuntos, é provocar instabilidades nesse sistema de histórias unicas.

 Ou seja, uma tentativa de transformaçāo dos cidadāos brasileiros em zumbis autômatos como aqueles de Alphaville, ao impedir a evoluçāo da sociedade através de uma revoluçāo no conhecimento, como tentado quando do Plano Nacional de Educaçāo de 2010 e os respectivos planos estaduais e municipais, os quais abordavam as questões equitativas de gênero e de orientaçāo sexual.

 Contudo, em 2013 o plenario do Senado suprimiu do Plano as palavras gênero e orientaçāo sexual, bem como toda a flexāo de gênero do texto, adotando o neutro masculino universal (o falso neutro). Reflexo do medo da demonizada “ideologia de genero”, uma falácia que induziria à destruição da família “tradicional”, à legalização da pedofilia, ao fim da “ordem natural” e das relações entre os gêneros, e que nega a existência da discriminação e violência contra mulheres e pessoas LGBT. Uma desonestidade politica e midiatica já que a unica coisa que a educaçāo sexual e em iguadalde de genero quer é contribuir na superação das desigualdades educacionais que comprovadamente existem entre os gêneros, em consonância com décadas de debates, acordos e políticas públicas estabelecidas democraticamente. É o brasil da contra-māo, da preguica intelectual e da censura das palavras, da negaçāo de que educar é sim um ato politico. 

Godard em 1965 já prevê um mundo didatorial, tecnicista, insensível e acrítico, em que nossa cogniçāo é usurpada e nossa emoçāo feita refém em preto-e-branco, como o audiovisual do clássico neo-noir. O cinza como um fim em si mesmo também retrata o tom (ou a ausência dele) da sociedade de Alphaville e os instantes daquelas vidas mecânicas e autômatas. Mas eu prefiro acreditar em Mateus Aleluia quando ele anuncia: “nao aceito quando dizem que o fim é cinza, se eu vejo cinza como um início em cor”, afinal, segundo ele, o amor, como a fênix, há de renascer das cinzas. E Alphaville, como a primeira letra do alfabeto grego, é apenas o principio do verbo. Acreditemos. Resistamos. 

Ana Luiza Tinoco
Mestra em ciências criminais na universidade de Coimbra e doutoranda em estudos de gênero no Instituto de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa. 

Stephen King acerta mais uma vez


À ESPERA DE UM MILAGRE (The Green Mile)
Gêneros: Crime, Drama, Fantasia
Ano: 1999
Duração: 3h9
Classificação: 14 anos
Direção: Frank Darabont

À Espera de um Milagre é um filme norte-americano de 1999, com base no livro homônimo de Stephen King, lançado em 1996. O filme é narrado em flash-back e estrela Tom Hanks como Paul Edgecomb e Michael Clarke Duncan como John Coffey, narrando a história de Paul e de sua vida como agente penitenciário do corredor da morte durante a Grande Depressão e os eventos sobrenaturais por ele presenciados.

Coffey é um homem negro alto e forte, condenado à morte pelo assassinato de duas garotas brancas. Aos poucos, desenvolve-se entre Edgecomb e Coffey uma relação incomum, baseada na descoberta de que o prisioneiro possui um dom mágico que é, ao mesmo tempo, misterioso e milagroso.

O guarda (juntamente com o espectador) se debate em um conflito moral entre o cumprimento do dever e a consciência de que o prisioneiro que deverá morrer pelas suas mãos pode não ser o culpado de um crime tão brutal. Não teria por trás dessa acusação uma desculpa para encobrir o racismo?

A maioria dos países aboliu a pena de morte, mas de acordo com a Anistia Internacional, hoje 58 países mantêm a punição para crimes comuns. Nos Estados Unidos – um dos cinco países que mais realizam execuções, segundo essa organização -, a ampla maioria dos criminologistas avalia que ela não influencia na redução da criminalidade.

No Brasil, infelizmente, o aumento da violência leva uma parte cada vez maior da sociedade a apoiar a implantação da pena de morte como medida para amenizar esse problema. A justiça brasileira, como qualquer outra, é suscetível de cometer (e já comete) falhas. Ela também é seletiva e justamente por isso leva inocentes para a cadeia. Não é difícil deduzir que também levaria também para o corredor da morte.

O filósofo Imannuel Kant certa vez, lá no século XVIII, disse que “o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”. Três séculos depois e ainda persistimos em não investir amplamente nesse setor. Ela é o instrumento principal que nos ajudará a progredir e fortalecer instituições e sociedades. Também é ela que nos ajudará a reduzir a criminalidade e o preconceito.

Marina Olívia
Direito – UFRN
Integrante do Cine Legis/2018

Para sempre Alice: uma visão tocante sobre o Alzheimer


O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que interfere diretamente no âmbito pessoal, social e profissional do paciente... mas que não se restringe a um diagnóstico médico e suas consequências. Envolve fatores humanos que merecem receber atenção, os quais merecem ser tratados de maneira mais real, assim como ocorre de maneira excepcional no filme Para Sempre Alice, baseado no livro de mesmo nome, da escritora Lisa Genova.





O filme apresenta a vida da Dra. Alice Howland, uma renomada professora de linguística, que começa a apresentar sinais de esquecimento, desde coisas simples, até a sensação de estar perdida em locais públicos que frequenta em seu dia a dia, chegando até mesmo ao ponto de não localizar cômodos dentro de sua própria casa. Ao ser diagnosticada com um tipo raro de Alzheimer, sua vida muda por completo. A confusão interna e externa pela qual Alice passa, a faz afastar-se de seu trabalho, pelo qual se empenhou durante toda a sua vida, tornando-a uma das melhores em sua área. A presença e comportamento da família tornam-se essenciais para a trajetória da personagem, a qual tem seu quadro agravado a cada dia.




Repleto de mensagens significativas, essa obra demonstra os conflitos pelos quais o paciente de Alzheimer está cercado: a sua participação social, seu convívio com amigos e familiares, a vida profissional, as antigas certezas que passam a ser meras incertezas, a importância de pessoas queridas e amadas, as memórias... cada passo dado pelo ser humano torna-se uma batalha de amor, dedicação e paciência, cada momento (re)vivido torna-se único, especial.

O filme ensina ao telespectador a importância de não julgar, a necessidade do observar e compreender. Ensina como cada segundo vivido perto daqueles que estão ao seu lado deve ser melhor aproveitado e valorizado. Para Sempre Alice não se trata somente de uma obra meramente cinematográfica, mas sim, reflete a verdade: o dia a dia daqueles que, a cada segundo, buscam compreender a vida a qual pertencem, que procuram amar novamente, todos os dias, aqueles que em momento tão confuso, estão ao seu lado.
“Sou uma pessoa vivendo com mal de Alzheimer precoce e me encontro aprendendo a arte de perder todos os dias.” Para Sempre Alice.



Fernanda Jácome
5° período - Direito UFRN

Contratiempo: um thriller nada óbvio


No cenário cinematográfico o cinema espanhol vem se destacando por meio de várias obras que ganharam notoriedade. No ano de 2017 foi a vez do filme “Contratiempo”, o qual se encontra disponível na plataforma Netflix.
Esse thriller narra uma história surpreendente de um assassinato e a sua resolução, que não é nada óbvia. A história acompanha Adrian Doria (Mario Casas), um típico homem de sucesso: bom emprego, casado e com uma filha. Por trás desse status, Adrian matinha um caso extraconjugal com uma fotógrafa, chamada Laura Vidal, a qual fora assassinada e o principal suspeito do crime a ero seu, então, companheiro. Dessa forma, ele contrata a melhor advogada de defesa da Espanha, Virginia Goodman, para juntos formularem uma defesa capaz de comprovar a inocência que ele alega ter.
A direção e o roteiro assinados por Oriol Paulo são exemplos de um excelente trabalho de construção de personagens femininas misteriosas, além de mostrar como se deve prender a atenção do espectador até a grande conclusão, preenchendo não apenas com uma, mas com várias reviravoltas que se desenvolvem ao longo da trama
O filme move-se por flashbacks, ludibriando o espectador sobre as possibilidades do real acontecimento que levou ao assassinato da amante de Adrian Doria, despertando, uma constante sensação de dúvida e a ânsia por chegar ao fim do mistério que permeia toda a trama.
Ademais, um importante aspecto que chama a atenção diz respeito a relação entre a advogada e o seu cliente. Envolta por uma narração misteriosa, o espectador não sabe ao certo até onde vai a sinceridade presente na conversação dos dois personagens, mas, ao longo do filme, tudo vem à tona e tem um desenrolar emblemático.
Contratiempo abusou, positivamente, de suas reviravoltas para chamar a atenção do público. O resultado é excessivo, surpreendente, compulsivo, flerta com o absurdo, mas sempre convincente, agradando boa parte daqueles que se despuseram a assistir.
Carolina Fernandes do Nascimento