segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Ladrões de Bicicleta

Ladrões de Bicicleta é um dos filmes mais importantes do neorrealismo italiano, movimento este que se dedicava a retratar as consequências e dificuldades enfrentadas pela população que sobreviveu a segunda guerra mundial.  
As obras possuíam características diferenciadas das demais, como: baixo orçamento, filmagens realizadas ao ar livre, uso de atores amadores, uso da língua falada com diálogos simples, além d o uso da arte para denunciar a miséria prevalente à época.  Muitas foram as críticas por causa da imagem da Itália retratada através das lentes, levando os diretores a largarem o movimento anos depois.
Vittorio de Sica foi o responsável pela direção desta magnifica obra, e sabia como ninguém demonstrar o principal tema do movimento: o desespero humano pela sobrevivência. E é ele que nos convida a acompanhar a saga de uma família italiana da década de 40 que busca a sobrevivência, de forma grave e sentimental.
Todo o enredo se desenvolve em torno da história de um pai, Antonio Ricci, que busca um emprego e, assim como outros milhares de italianos, depois de muita espera, acaba sendo chamado para um posto de colador de cartazes, porém é informado que para este, ele deve possuir uma bicicleta. Ao retornar para sua casa, ao encontrar-se com sua esposa, Maria, estes decidem por vender alguns de seus pertences para conseguirem o dinheiro necessário para aquisição da bicicleta.

O primeiro dia de trabalho é o ponto marcante do filme, primeiramente, pela alegria expressada por um pai de família esperançoso, imaginado dias melhores. No entanto logo em seguida a desilusão o toma devido o seguinte.
Como forma de evitar spoilers, e como estudante de Direito, surge então o problema de analisar através do filme a necessidade de conceituar o papel que o Estado deve desempenhar como forma de superar os impasses do convívio social, em razão da complexidade das relações humanas modernas. Assim temos constatada uma crise na sociedade moderna que impôs ao Estado dificuldades ao seu exercício de um regime democrático legítimo.

Devemos perceber que uma característica comum às sociedades democráticas é o princípio nuclear do exercício da liberdade e a garantia da igualdade. Já o princípio constitucional da solidariedade soma-se a esses princípios no momento em que nos faz afastar da interpretação dos institutos do Estado de Direito como política individualista, que subordina a dimensão pública e o interesse geral ao primado absoluto dos valores e expectativas individuais.
Portanto, o Direito deve ser produto da vontade de agentes livres e iguais, vez que o Direito democrático considera todos os sujeitos como autores e destinatários de normas e instituições. Por isso, devemos ir além da noção de cidadania como mero status legal, para encará-la como cidadania moral que se materializa nas condições de participação do indivíduo na sociedade.

Anderson de Almeida
Acadêmico de Direito/UFRN

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Resenha: O abutre

O filme conta a história de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), um ladrão de metais que tenta ganhar a vida de um jeito fácil. Bloom até tenta arranjar um emprego decente, que possa construir sua carreira, mas seu status de ladrão acaba descredibilizando-o. Em seu caminho de volta para casa, Bloom tem sua atenção tomada por um acidente na avenida, na qual fica parado observando o acontecimento até se deparar com um cinegrafista freelancer, que filma todo o ocorrido e vítimas para vender para alguma emissora de TV.
Bloom se interessa por isso, acredita que é dinheiro fácil e compra uma câmera e um rádio de polícia no qual fica escutando o dia inteiro em busca de acidentes para fazer imagens e negociar com as emissoras. Seus vídeos começam a ter notoriedade pela mídia. Bloom entende que é um trabalho promissor e contrata um funcionário para ajudar no trabalho.

Os dias seguem até que ele encontra a catástrofe perfeita, um acidente no qual ele chega antes da polícia. Bloom entra em cena dando sentido à palavra “abutre“. Movido pelo dinheiro e pela falta de sentimentalismo ele começa a moldar a cena do crime, alterando o que pode no cenário a fim de que tudo se enquadre melhor em suas lentes. Esta é a grande chance do personagem obter algum êxito: alterar as cenas dos crimes lhe rendem muito mais dinheiro. Bloom começa a esquematizar seu próximo e último acidente do filme, o acidente que custa a vida de alguns figurantes, policiais e seu funcionário, o acidente que lhe rende dinheiro para a fundação da Video Production Services, sua empresa de imagens.

O filme traz à discussão não só os limites de onde termina o direito de um e começa o direito do outro, mas também fala sobre algo fundamental para uma sociedade, empatia. Empatia não só quando se deixa de importar com o próximo, mas com até o cometimento de crimes para ganhar uma “vantagem” utilizando outro ser humano como um verdadeiro objeto para o seu bem próprio, ignorando completamente os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, onde no Brasil prevê que a conduta da personagem já desde o início seria criminosa como declara o art. 135 do Código Penal/1940 na qual trata do crime de omissão de socorro onde é previsto pena de detenção de um a seis meses ou multa; na constituição sem dúvidas que após a ditadura militar um princípio muito buscado para o aperfeiçoamento do Estado Democrático é o da Dignidade da Pessoa Humana  com o claro objetivo de proteger o direito de todos em todas as situações.


Ana Beatriz Brito
Membro CineLegis - 2018